Em meio a uma das maiores pandemias e com seu arrastamento, conviver com emoções é sempre um grande desafio. No auge desse estresse, as pessoas vivenciam picos de ansiedade e irritabilidade, em um estado de constante tensão e vigilância, diante da impossibilidade de se prever quando e o que vai acontecer quando a vida voltar ao “normal”.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), já está ocorrendo o que se pode chamar de epidemia de depressão e ansiedade. “O isolamento não é igual para todo mundo. Uma boa parte da população não tem condições e nem assistência nos cuidados necessários para conter o vírus. Existem aqueles que se sentem perdidos; não sabem se cumprem o isolamento. Se não cumprem, ficam ansiosos. É uma tortura emocional constante. Além do medo de pegar a doença e da falta de contato com familiares e amigos, há ainda a preocupação com o dinheiro, o medo de perder o emprego e a instabilidade política do momento. E isso produz muita angústia”, explica a psicóloga Renata de Assis Pereira.
Nesse contexto, falar sobre as emoções é essencial. “Você pode estar com a sensação de que essa situação de pandemia não vai acabar nunca? Pois é! Eu também estou. Meus amigos e parentes também estão. Talvez os seus também estejam assim. A sensação de que está “todo mundo” cansado e mais ansioso pode não ser só uma impressão e coisa da sua cabeça. E está tudo bem se sentir estranho! Não se cobre em estar bem o tempo todo. Porém, é preciso dosar o quanto esses sentimentos afetam sua vida. Não tenha medo ou vergonha de falar de suas emoções, converse com seus familiares, amigos e, se precisar, busque ajuda profissional.
Conforme situa a psicóloga, o medo da morte nos acompanha desde sempre, aparece com mais intensidade para as pessoas que possuem ansiedade, depressão, dependência química e outros transtornos pré-existentes. “Elas estão enfrentando essas dificuldades emocionais, com impactos ainda maiores, o perigo é invisível e desconhecido - e isso se torna atormentador. Há pessoas que, nesta situação, sentem-se sufocadas, com pensamentos negativos, vendo a morte de perto, sofrendo muito mais do que deveria, o que amplia ainda mais sua angústia”, pontua Renata. “O medo precisa ser um sinal de alerta para o cuidado, e não pode ser uma emoção que faça a pessoa morrer antes. É preciso que seja um estímulo para a vida, não uma situação que paralisia, que cause desespero ou que impeça de viver e ter esperança. Tomando os cuidados necessários, podemos ter uma tranquilidade de que estamos fazendo a nossa parte. O problema consiste quando você está passando por uma situação de risco real e ela se soma aos medos internos de cada um”, pondera.
Necessidade de equilíbrio
Se o medo que nos paralisa faz mal, a falsa sensação de segurança também acaba por expor ao risco desnecessário. A flexibilização e relaxamento da população com os cuidados vem trazendo uma falsa sensação de normalidade e o discurso do ‘novo normal’ parece adormecer o significado das inúmeras mortes que ocorrem diariamente, uma combinação assustadora e que requer muita atenção. “Tenho ouvido de pacientes relatos do tipo ‘eu não aguento mais ficar em casa’ e até ‘prefiro pegar logo covid a ficar em casa trancado para sempre’. No entanto, é preciso tomar cuidado com a saúde mental dos dois polos: das pessoas que estão em casa e querem sair e das pessoas que estão se expondo cada vez mais. É um período de vulnerabilidade maior para todos. Do ponto de vista da saúde mental, a retomada da vida tem pontos positivos e pontos negativos. Existe esse medo de sair, por outro lado, podendo sair, as pessoas estão procurando válvulas de escape e uma forma de amenizar o estresse, causado pelo isolamento”, explica.
E esse relaxamento tende a se intensificar nas festas de fim de ano: “Juntamente com a cultura de confraternização para celebrar o fim do ano, caminha o cansaço das restrições. Mas até ter a vacina, vamos ter que conviver com isso: distanciamento social, uso de máscara e reforço nos cuidados básicos de higiene. O melhor a se fazer, pensando a médio e longo prazo, é ampliar urgentemente todas as medidas de segurança da população. Desde os equipamentos de entretenimento até os encontros familiares e entre amigos. Se não voltarmos a ter o controle da contaminação do vírus, a necessidade de um novo lockdown, em pleno réveillon, pode se tornar uma triste realidade”, finaliza.
Serviço
Psicóloga Renata de Assis Pereira
Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental.
Contatos: (31) 99902-8947 / [email protected] e
@psirenataassis (Instagram)
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Escrito por Renata Assis, no dia 10/12/2020