É possível que daqui a 30 anos existam os mesmos professores com a prática docente de hoje, pois a evolução do pensamento social humano é lenta e, mais ainda, na instituição escolar. Hoje existem fortes pressões sociais de todas as naturezas para a escola mudar, uma vez que ela não está conseguindo dar respostas cabíveis aos desafios atuais. Aliás, essa instituição sempre existiu repetindo receitas de terceiros. Se isso foi válido para as décadas passadas, hoje ficou sem sentido.
O grande desafio para ela, hoje, é ajudar docentes e estudantes a construírem respostas, pois os grandes dogmas caíram por terra. Como a escola tradicional ainda está presa aos antigos cânones de forma ortodoxa, deixou de ser referência e tem perdido relevância social, levando a sociedade a reações jamais vistas contra ela. Por isso, é mais do que urgente pensar sobre o perfil do professor do futuro.
Hoje há um grande descompasso entre avanço tecnológico e atraso do pensamento escolar. Como as pessoas estão usando cada vez mais as inovações tecnológicas, a ponto de não conseguirem conceber mais a sua rotina diária sem elas, muitos podem achar que a maior pressão sobre a escola está vindo da tecnologia. Mas não será a tecnologia que vai desenhar o perfil do professor do futuro e, muito menos, revolucionar a sua prática docente. Há forças sociais muito mais profundas que estão demandando outra cultura escolar e não podem ser ignoradas, neste momento.
As inovações tecnológicas não serão o mote para a transformação da cultura escolar e muito menos vão provocar mudanças profundas no perfil do professor do futuro. Tudo indica que as novas tecnologias não vão exercer a função de questionar as relações sociais de poder que estão no substrato da nossa vida urbana e rural e democratizá-las pelo princípio da equidade e da tolerância. Não parece que também o pensamento social será suficientemente capaz de se amadurecer para cobrar acessos democráticos de todas as pessoas às novas tecnologias. Diante disso, o professor do futuro terá de ser mais politizado do que os atuais.
Ele terá de ajudar os estudantes a se formarem na cidadania crítica e não para a cidadania, como projeção para o depois de adultos. Isso implica que os mestres terão de saber pensar de forma mais autônoma possível, do que se segue, pensar e agir com discernimento e capacidade e crítica. Terão de escrever mais e falar menos. Terão de se posicionar criticamente diante dos conceitos, desmontando e reconstruindo todos eles, principalmente aqueles considerados os mais exatos até o momento.
É preciso que consigam mostrar aos estudantes que mesmo as produções humanas científicas mais precisas estão no campo da capacidade da razão humana e que, portanto, são produtos históricos, mesmo em se tratando de grandezas quantitativas. Portanto, passíveis de questionamentos. Não fosse assim, as teorias nunca cairiam ou nunca seriam substituídas. A perspectiva da criticidade será crucial aos novos mestres, sob pena de deixarem um legado lamentável de alienação social.
O professor que quiser que seu trabalho tenha projeção e influências futuras terá de trabalhar os conteúdos curriculares com metodologias diferentes da que usa hoje. E a questão não estará em descartar velhos conteúdos imprescindíveis para a vida social, mas primeiro ter critérios claros para provar a relevância desses conteúdos e, depois, a capacidade de desmontá-los e reconstruí-los. Para tanto, o professor do futuro terá de ter claro qual é o projeto de sociedade e de sujeito que ele pretende formar. Quanto maior a crise ética do momento, maior a urgência dessa clareza. Se isso não está claro para os profissionais de ensino, parece que também não está para as instituições que formam os educadores.
O professor do futuro terá de ser um sujeito com formação especial. Mais do que tecnológico, terá de ser sujeito capaz de pensar o mundo a partir das tecnologias, assegurando aos estudantes saber ler e pensar criticamente o mundo e a transformá-lo para que a vida social seja viável. Ainda que a educação escolar não possa mudar a sociedade sozinha, ou mude bem pouco os sujeitos, o professor do futuro terá de investir ativamente no que ela pode.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: [email protected]
Você está lendo o maior jornal do Alto Paraopeba e um dos maiores do interior de Minas!
Leia e Assine: (31)3763-5987 | (31)98272-3383
Escrito por Educação, no dia 28/07/2016