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Educação


Provas e diagnóstico da aprendizagem: um dilema



A reflexão que vou apresentar, nesta semana, é sobre os limites da aprendizagem diagnóstica pela prova. Discutirei alguns trechos do livro "Ser professor é cuidar que o aluno aprenda", uma bela obra, dentre outras, do sociólogo educador, Pedro Demo. Ele escreve: "É sempre boa ideia começar o semestre ou o ano com uma semana de avaliação, para podermos ter clareza sobre a condição de cada aluno. Quem não faz isso começa dando aula e assim segue, sem preocupar muito se os alunos estão acompanhando, até porque entende como acompanhamento a prova, e que pode ser totalmente reprodutiva: mesmo o aluno que não aprendeu nada, mas sabe memorizar, pode sair-se bem neste tipo de prova. Se esta semana for mal posta, pode ser um terror, porque os alunos podem interpretar como enquadramento autoritário. Aí precisa entrar em cena a habilidade avaliativa do professor. É fundamental saber diagnosticar, sem matar.[...]"

 

Esses dizeres são fantásticos. Muitas escolas fazem isso. Porém, a maioria segue em frente sem quase ou nunca parar para diagnosticar. Para as escolas, de qualquer rede, ocupar-se com uma semana para diagnosticar as necessidades de cada aluno seria luxo. Na verdade, seria ganho imenso. A maioria atende pela média, que é mentirosa, pois mostra dados pela superfície, mascara e esconde os problemas atrás de números. A prova que cobra memorização, e não o de­senvolvimento do saber pensar, é usada para diagnosticar aprendizagem, sendo o pior e o mais frágil dos instrumentos pedagógicos. Sempre achei ridículo ouvir meus alunos pedirem para eu aplicar a prova logo, para não esquecerem o que estudaram. Na realidade, não tinham estudado, apenas memorizado.

 

Em poucos anos de docência, abandonei o tipo de questões de simples memorização. No entanto, não faltaram alunos que me pediam que voltasse a elas. Diziam que minhas provas eram terríveis, porque eles tinham de pensar muito, para responder às questões. E olha que eu dava aulas na perspectiva do pensar a informação e reconstrui-la, criticamente. Isso era desconfortável para eles. A maioria gosta da zona de conforto, que é perversa. Debocha da inteligência. Como dizia Guimarães Rosa, "O animal satisfeito, dorme".

 

Em outra parte, o autor afirma: É também ideia boa, parar de vez em quando, pelo menos entre os professores, para colocar a pergunta fatídica: os alunos estão aprendendo bem? Os dados asseguram que não aprendem bem. Esse parece ser fato curto e grosso. Assim sendo, caberia sempre de novo, obsessivamente, perguntar-se até que ponto os alunos estão aprendendo dentro das expectativas, pelas razões de baixa aprendizagem, por estratégias de resgate do direito de aprender.

 

Uma coisa é "passar de ano", outra é aprender. De modo geral, a repetência está em queda, mas a aprendizagem não parece estar em alta, em grande parte por causa da progressão automática. Não é tolerável descobrir, no 9º ano, que a maioria dos alunos não entende o que lê. Isso condena a escola de alto a baixo, ainda que nunca seja o caso brandir qualquer acusação de culpa, porque, no fundo, trata-se do mesmo sistema e do mesmo processo histórico. O que preocupa, acima de tudo, é que a escola não parece reagir. De certa maneira, parece estar capitulando. Progressão automática é pura capitulação."

 

Enquanto as escolas não mudarem sua cultura, essas palavras do autor vão soar como românticas. Concordo com o que ele propõe, mas é triste ver a maior parte dos professores simplificando os problemas, alegando que nota baixa é culpa só dos alunos. Às vezes, é. Já tive alunos da rede estadual pedindo para a gente estudar menos coisas, quando deveriam na perspectiva de Paulo Freire, apropriar-se do saber do opressor como instrumento para fazer seu processo de libertação. Para muitos alunos, está valendo o "quanto pior melhor". Isso se dá porque estão encontrando professores comparsas nessa fraude do "fingir que ensina para o fingir que aprende." (Werneck Sodré).

 

Não dá para discutir nesta semana, a questão da progressão automática que é outra fraude do sistema educacional que, no desespero, faz as escolas criarem expedientes que repassam as defasagens de aprendizagem para a frente, com aplausos da sociedade. Isso é lastimável!

 

José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: [email protected]

 



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Escrito por Educação, no dia 28/07/2016




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