Um das grandes perversidades do atual sistema de ensino no Brasil é o cenário de escolas com salas de aulas cheias, onde os alunos, com maiores dificuldades de aprendizagem, vão ficando para trás, abandonados, excluídos. É o atendimento no atacado. A escola convencional está preocupada só em cumprir um currículo extenso. Os professores trabalham, freneticamente, para repassar informações. Todos querem que os conteúdos sejam dados. Com isso, evitam críticas dos colegas que trabalham com suas turmas no ano seguinte. Querem que os alunos consigam base cognitiva para darem conta da próxima série e cobram de si mesmos resultados no seu trabalho. Muitos docentes chegam ao ponto de ter forte sentimento de culpa quando não conseguem realizar a façanha de cumprir programa da série.
Só que há um grande equívoco nisso tudo. O ensino no atacado deixa sua marca sobre alunos e professores, mas a pior delas, nesse sistema frenético de trabalho desgastante. Inacreditável que os docentes fiquem felizes quando, ao final do ano, então exaustos, sentem orgulho por deram conta do programa das turmas. Resta questionar: qual foi o substrato conquistado por essa luta insana de Sísifo? Nada ou quase nada.
As pesquisas do governo já anunciaram que o desempenho dos estudantes não melhorou, mesmo depois que a LDB 9334/96 aumentou o ano letivo para 200 dias. Ao contrário, piorou desastrosamente, pois, ao final do 9º ano, muitos não desenvolveram a habilidade mínima de compreensão e interpretação de texto básico. Essas mazelas derivam de uma séries de erros, de concepções errôneas sobre currículo e aprendizagem, que resultam no entupimento do aluno com conteúdos em grande parte imbecis e socialmente irrelevantes, no atacadão de conteúdo. Pega quem pode, acompanha quem consegue. Tem muita gente confundido aulas e com aprendizagem. Aumentam as aulas e pioram a aprendizagem.
As aulas tendem a atender habilidades médias. Os alunos que possuem uma base cognitiva conseguem seguir o professor, pela média, porque o trabalho do professor também é pela média e não pela necessidade individualizada de cada um deles. Os que absorvem conteúdos no atacado conseguem, entediados, acompanhar os professores. As relações pedagógicas são construídas pela impessoalidade, por mais que os docentes saibam os nomes dos alunos. E, se ser chamado pelo nome já constitui privilégio na lógica massificante e alienada, não constitui grande ganho para os alunos, pois mesmo os que acompanham os professores têm lá suas necessidades e ritmos pessoais de aprendizagem que não são levados em conta.
Toda vez que me refiro à necessidade de os mestres fazerem acompanhamento personalizado, deparo com reações negativas. Até certo ponto, os docentes têm razão, pois sabem que dificilmente a escola vai mudar a lógica do atacado, pois é ela que garante retorno econômico. E, no atacado, não há acompanhamento personalizado. A conversa fiada de que o aluno é o centro da educação não passa de falácia descabida. Se o fosse, a escola já estaria trabalhando com poucos alunos em sala, acompanhados por mais de um professor. No atacado, o menos atendido na escola é o aluno. E a mais praticada é a aprovação automática irresponsável, onde todos lavam suas mãos e repassam os problemas da massa de alunos adiante. Essa falácia da inclusão tem ficado insustentável. A realidade dos baixos resultados mostra a exclusão.
Os professores precisam reagir ao desgaste do sistema educacional e lutar, juntamente com os alunos, para todos se livrarem dessa massificação que exclui, fingindo que inclui. O discurso de preparar pessoas para a cidadania futura também é falaciosa e precisa ser, urgentemente, substituída por uma preparação escolar na cidadania crítica.
Os professores e o
sindicato da categoria precisam mudar concepções sobre escola e lutar por salas
de aulas com menos alunos e por outros tipos de currículos. Só, então, será
possível construir escolas com relações democráticas, onde todos consigam um
desempenho mais positivo e menos escandaloso do que tudo isso a que temos
assistido.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: [email protected]
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Escrito por Educação, no dia 01/07/2016