Sinto que cresce o número de professores idealistas. Eles querem construir uma nova docência e estão dispostos a trabalhar de forma coletiva com outros colegas e com os responsáveis dos estudantes, pois já perceberam estão percebendo valores morais e acadêmicos dessa decisão.
Há uma fábula motivacional, de autor desconhecido, que vou reproduzir aqui, mas direi, em seguida, por quais razões não concordo inteiramente com o conteúdo dela. Diz: ?Era uma vez uma floresta, onde vivam muitos animais. Certo dia, houve um incêndio e todos os animais fugiram, procurando salvar-se das chamas. Apenas um beija-flor teve um comportamento diferente. Voava até o lago, apanhava algumas gotas de água e jogava-as no incêndio. Um outro animal, intrigado, interrompeu sua fuga e perguntou:
- Beija flor, acreditas que vais apagar o incêndio dessa forma?!
- Não, claro que não ? respondeu o beija-flor ? mas estou fazendo a minha parte.?
As fábulas são interessantes, porque podem levantar o moral das pessoas e podem ajudar os mais desanimados e dar sua cota de contribuição para melhorar seu ambiente de trabalho. Todavia, quase sempre elas reforçam a ideologia da ação isolada dos sujeitos, o ?cada um por si e Deus por todos?, o individualismo, o herói gênio, como se a história coletiva fosse o resultado do processo de trajetórias pessoais, bastando cada um fazer a sua parte.
Eu não concordo com essas visões. Elas são pretenciosas e, por isso mesmo, desastrosas. O grande problema dessas fábulas é não levar em consideração que, para se tornar realidade consistente, o idealismo só vinga se for processo construído de forma coletiva. Essas histórias esvaziam a força das ações coletivas e deixam a triste, mas errônea, conclusão na cabeça dos professores de que se as coisas não mudam é por incompetência e culpa deles.
O Brasil está cheio de professores idealistas que tentaram fazer a sua parte e viram suas ações serem diluídas e não terem o impacto esperado. Esses professores acreditaram que a força-tarefa deveria ser obrigação individual e essa visão deles foi equivocadamente reforçada por fábulas como essa. Vários deles abandonaram a profissão, outros se acomodaram e um sem número começou a tirar licenças, para não ficarem doentes ou por já estavam mal. É que quando a alma está triste, o corpo fica doente. Professores que acharam que deviam lutar sozinhos acabaram caindo na síndrome de Burnout foram ignorados pelo sistema.
Há aqueles que estão percebendo os limites do idealismo levado para as escolas de forma individual e estão começando a discutir saúde docente e gestão escolar numa dimensão mais horizontal, flexibilidade do tempo e espaço escolares à luz da LDB 9394/96, currículos escolares e escola de tempo integral, formação de professores e novas formas de avaliação, trabalho coletivo docente e processos de avaliação, para bem além das questões salariais que não deixam de ser indispensáveis.
Esses professores idealistas sabem que só vão conseguir tirar a escola da contradição do discurso de formar alunos críticos e participativos, quando forem os primeiros a construírem um ambiente que lhes assegure as condições reais para também praticarem essas habilidades.
Esses professores estão dispostos a acabar com o trabalho individual que fazem na solidão da sala de aula e a iniciarem práticas coletivas. Eles precisam de muita união e da capacidade para persuadirem seus superiores imediatos da necessidade de um trabalho mais coletivo, pois muitos diretores ou técnicos afirma de maneira errônea que o trabalho coletivo não acontece, porque os professores não querem. Pense nas razões de cada lado e discuta o assunto de forma corajosa com seus colegas.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 12/02/2016