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Educação


Galera do Banquinho: o reencontro



Depois de quase 15 anos, eles se reencontraram no dia 26 de dezembro de 2015. A idealização, articulação e realização daquele momento só foram possíveis graças à garra de duas jovens: Aline Dulce e Tamara Santos. Não sei quando passaram a ter este nome, mas, naquele dia, lá estava a "Galera do Banquinho". Entre 2000 e 2001, eu passava na Praça Tiradentes e lá estavam eles. Eram adolescentes que se reuniam, juntando os banquinhos em roda, con­versando, cantando, tocando instrumentos. Ia dar aulas e via os grupos, ao entardecer. Admirava aqueles meninos e meninas. Na verdade, eu tinha uma boa inveja deles, pois sempre gostei da contracultura e da contestação na cultura da resistência. Eu me projetava neles e, professor recém-formado, lembrava meus dias de Filosofia e sentia saudades de loucuras na Universidade.
Eu pensava em parar o carro, descer e ouvir o que cantavam e falavam, mas nunca fiz isso. Tão somente escrevi o artigo, "Adolescentes em grupos na Praça" sem saber que um dia existiria uma rede social chamada Facebook e que ele seria colocado como capa da página da Aline. A iniciativa dela fez a Galera ir chegando, se  cumprimentando, se revendo virtualmente e daí nasceu a ideia do reencontro. Essa conversa que começou em abril, se eu não me engano, foi intensificada e o dia 26 foi escolhido por votos (exatamente, votada por vários deles). 
Nesse entremeio, a Aline fez contato comigo. A partir daí, me reportei ao passado e, confesso, fiquei muito emocionado. Foi incrível saber que aquele artigo estava sendo a razão de a Galera se reaproximar e querer se rever. Sem querer, eu tinha me tornado responsável por isso. E já me sentia padrinho deles. Pretensão minha, é claro. Passei a esperar, ansiosamente, pelo dia marcado para o reencontro. E ele aconteceu. 
Fui cedo para o local e não dá para descrever o sentimento que tive ao vê-los chegando aos poucos, se abraçando, rindo, fazendo os gestos da rebeldia e todos muito animados. Eu assisti a tudo com a mesma admiração do passado. Eu conhecia alguns, pois tinham sido meus alunos. No entanto, muitos que eu não conhecia me abraçavam, dizendo que meu texto havia sido um apoio a eles, pois eram mal vistos pela sociedade local, tachados de vagabundos, roqueiros, drogados. Alguns disseram que mostraram aos familiares o que eu havia escrito e que eu tinha sido a única voz (ou a letra) publicada em defesa deles. Jamais poderia imaginar tudo isso, se eles não me contassem no dia.
Hoje, aqueles meninos continuam cheios de jovialidade, sorridentes e com muita vitalidade. E mais: para aquela sociedade hipócrita que os discriminou, vem um tapa de luva, pois a "galera" está bem sucedida na vida: são inovadores, empreendedores, ousados. Eu via aqueles meninos e meninas como símbolos da criação de uma cultura de resistência na rua. Era no espaço público que queriam publicar suas ideias. Não era por pouco que iam à praça, a ágora atual e, como Sócrates, provocando parto das ideias.
Tinham mesmo que extravasar sua energia criativa, visivelmente presente neles ainda hoje e disseminada Brasil afora. Veio gente que está no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, gente que casou, gente que já tem filhos pequenos ou adolescentes, gente com curso superior, gente com mestrado e gente que está indo para o doutorado. Dentre eles, uns se graduaram em História, outros em Filosofia e me disseram que eu tinha certa culpa nisso. Será? 
Eles desejam se reencontrar nos próximos anos. Alguém propôs voltarem a se encontrar na Praça. Se eles fizerem isso, juro que, desta vez, vou lá me sentar com eles. Vamos viver o prazer das conversas, o prazer da vagabundagem das ideias e não importar com a imagem que a sociedade fizer de nós. "Galera do Banquinho", eu admiro vocês.  Parabéns! Abraço grande do Zé, nesse janeiro de 2016.

José Antônio dos Santos Mestre pela UFSJ
Contato: [email protected]



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Escrito por Educação, no dia 22/01/2016




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