Gostaria de voltar à discussão sobre o Ensino Médio, que considero etapa essencial da vida do adolescente, porém tratada com muita crueldade pelo tipo de currículo adotado e pelo estilo de adestramento de que ele se reveste. Estudantes se acostumaram com a ideia, reforçada por professores, diretores e coordenadores, de que o Ensino Médio tem de ser fase de treinamento para as provas oficiais para garantirem o ingresso no ensino superior. Passam três anos memorizando e repetindo fórmulas, fatos geográficos e históricos e se distanciam de sua própria história.
Não é por pouco que muitos deles conseguem se preparar para fazer qualquer vestibular e obterem sucesso nas provas para qualquer curso, mas não sabem com qual se identificam. Estão longe de ter ideias claras e distintas sobre suas habilidades e competências pessoais, pois passaram sem conhecer a si mesmos, longe de si mesmos. Por mais que Sócrates lhes dissesse a cada um: ?Conhece-te a ti mesmo?, cada dia mais eles se distanciaram do seu autoconhecimento, nessa etapa que poderia ser a mais expressiva de suas vidas, para se enxergarem como pessoas, sujeitos, cidadãos e futuros profissionais.
O Ensino Médio tem servido para formar pessoas repetidoras de fórmulas e fatos que, mais à frente, como formigas tontas, pulam de um curso a outro não se identificando com nenhum deles. De veterinária vão para o jornalismo, de enfermagem passam à administração de empresas e por aí vai. Sei que existem pessoas com habilidades bem diversificadas, que são médicos escritores com maestria, mas não é disso que estou tratando aqui.
Mesmo não sendo formado em História, dei aulas dessa disciplina no Ensino Fundamental e Médio durante anos. Por anos a fio eu questionei, mas tive de me submeter a currículos com os quais não concordava. Eu me submeti a elas, mas quem trabalhou comigo sabe que foi a contragosto. Hoje fico a pensar qual seria o efeito das aulas de História na formação cidadã e na atuação profissional dos adolescentes, se o currículo não estivesse voltado para o mero treinamento para avaliações oficiais de ingresso ao curso superior.
São muito frequentes os casos de ex-alunos que mudaram radicalmente seu pensamento, seu sentimento e suas atitudes depois que se apaixonaram por alguns capítulos da História Geral ou do Brasil. Só que sofreram, deveras, pois não puderam escolher para estudar os capítulos pelos quais sentiram maior fascínio e tiveram maiores interesses. Pelo bem ou pelo mal, alguns alunos disseram que passaram a estudar História por causa das minhas aulas. E olhe que não podiam escolher o que estudar, pois os capítulos eram impostos; o conteúdo programático era para treinar para o vestibular.
Agora que não estou mais em sala de aula, desacelerado no trabalho, podendo digerir as obras da historiadora Mary Del Priori, cada dia mais, vejo a necessidade de questionar o currículo do Ensino Médio, há muito tempo etapa pobre do sistema de ensino. Fico triste ao perceber que o próprio aluno só quer treinamento para garantir um lugar ao sol do mercado. Como se a razão da vida humana fosse só produção para o mercado. A cada dia vou entendendo melhor o conceito de inutilidade defendido por Rubem Alves.
Se você estiver interessado nessa discussão, acompanhe as duas próximas edições. Vou escrever a partir da pesquisa da professora Priori que tenho lido e estudado. As adolescentes precisariam conhecer essa autora. E o currículo do ensino médio precisa estar aberto para textos também dela. Penso ser direito e dever dos adolescentes sobre a sexualidade feminina, do período colonial aos nossos dias. Por que não nós homens também? A linha historiográfica de Mary Del Priori é estudo inédito no Brasil e algo simplesmente fascinante!
Meu próximo artigo será sobre a crueldade do currículo e crueldade com as meninas do ensino médio. Vai lendo isso tudo e opine, se você quiser. O contato está no início.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 30/12/2015