Os professores leem muito? O tempo todo? Parece que a resposta é sim para uma minoria. O professor brasileiro padece da cultura da oralidade, tornou-se um pragmático, ou seja, um prático que dá aulas a partir da imitação do modelo que aprendeu como aluno. Livros sobre formação de professores? Muito pouco.
Durante toda minha trajetória docente, vi uns poucos colegas discutindo um ou outro autor, um ou outro escritor sobre formação docente. Quem conhecia Eduardo Galeano e discutia ?As veias abertas da América Latina?? Quantos leram Maria Tereza Nidelcoff? Quantos aprenderam os conceitos essenciais de Paulo Freire, para além de citá-lo para impressionar? O autor Celso Vasconcelos foi referência por longos anos nas questões sobre avaliação de alunos. No entanto, não me lembro de alguém citar o nome dele ou seus estudos sobre avaliação.
E todo mundo continuava dando provas e avaliando os alunos. Com que critérios e base conceitual? Parece que na base da intuição pelo que viveu como aluno. Comparativamente, é como se bastasse ter sido jogador um dia, para se tornar excelente capitão de um time, ou um técnico de seleção. Técnicas? Métodos? Teorias para consolidar a prática docente? Parece que muitos detestavam ?perder tempo? com preparação teórica e com leituras.
Eu me lembro de muitos professores se empolgarem com a palavra ?projeto? durante anos, principalmente os do Ensino Fundamental. Mas, quantos sabiam onde tinha nascido o conceito ?pedagogia de projetos?? Uns sim. Mas não sei quantos leram Fernando Hernandez. Imagino que bem poucos. Por essa razão, qualquer atividade passou a ter o nome pomposo de projetos, pulverizando a proposta. A escola banaliza teorias e as transformam em modismos.
Eu me recordo de quando as primeiras obras sobre inteligência emocional, do psicólogo Daniel Goleman, e a teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner, foram lançadas e eu me empolguei com elas, pois via que tinham conceitos essenciais para educadores. Eu trabalhava na escola estadual Narciso de Queirós e citei a teoria deles em uma reunião pedagógica. Uma colega interveio dizendo que livros de autoajuda não eram indicados para a formação de professores. Ela era leitora, mas desconhecia que inteligência emocional não é autoajuda; é cientificidade. Os outros, que não liam, ficaram olhando sem nada entender.
Quando eu trabalhava na escola estadual Monsenhor Horta, um professor de Química sempre queria que eu falasse nas reuniões pedagógicas, para o tempo passar mais depressa. Ele dizia que gostava das minhas ideias mirabolantes, o que eu entendia mais como crítica do que elogio, e que ele se referia às minhas reflexões. Parece que o docente brasileiro detesta refletir, porque detesta ler, e detesta ler, porque detesta refletir. O professor e sociólogo da UNB, Pedro Demo, chama a isso de contradição performativa. O professor cobra leitura dos seus alunos, mas detesta ler e nunca lê (risos).
Quando o livro ?Professores reflexivos em uma escola reflexiva? da autora lusitana, Isabel Alarcao, foi publicado no Brasil, fiquei a pensar quantos professores o leriam por aqui. E, hoje, visualizo que os estudos sobre neurociência darão grandes respostas para os desafios escolares da aprendizagem e fico a pensar quantos vão ler e estudar, refletir e aplicar o seu legado. Espero que a nova geração docente tenha outra atitude diante da leitura.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 05/02/2016