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Cultura


Paulinho Demolidor: a arte se revelando pelos escombros




 

Paulo Antunes
Professor de redação, escritor, revisor textual
Mestre em Letras (Linguagem, Cultura e Discurso)
[email protected]

Quem viaja (no sentido amplo do verbo) pela rodovia que liga Lafaiete a Itaverava, bairro Gigante, pisará macio no acelerador ao passar em frente à casa/ateliê de Paulinho De­mo­lidor, essa flor de novidades plantada à beira do asfalto que se empresta ao mundo como espaço cultural, biblioteca, bar, café... E ele e seu fazer artístico aquecem a continuidade desse lugar que tem movimento, ver­de e jardim onde cada um pode ser inseto ou planta: coisas que dão calor às vísceras da sensibilidade.

O artista de quem vou falar com escrita em melodia foi se fazendo como artesão da arte num processo gradativo, meio que num milagre, no seu pós-cinquentenário, essa época de luz em que pôde acender com força a fogueira da própria construção: “Fui me construindo como artista no silêncio de mim já que durante muito tempo não ouvi a voz da minha essência de artista. Os amigos e pessoal mais chegado foram me mostrando o caminho e cheguei”, relata esse xará que enfrentou tempestades e trovoadas interiores para brilhar após ser uma dessas milhares de vítimas de um sistema que olha enviesado os que têm o dom, a manha de pulverizar encantos artísticos neste planeta azul.

Paulinho é eterna infância em maturidade e ganhou o bom presente do nome Demolidor de outra criança, seu filho, que cresceu vendo o coração e as mãos paternas demolindo imóveis antigos para se lambuzar de matéria prima para que suas criações tenham a pele, os ossos e a carne de um infinito ciclo histórico-memorialístico. “Penso que muito do que uso para trabalhar tem uma questão histórica por trás da cada peça que traz as recordações, a beleza do passado, principalmente madeira e ferro”, assim flutua sua voz com a solenidade de um respeito muito próprio sobre o tema de sua explicação.

O nome Paulinho Demolidor ultrapassa a questão de ser a adição de um substantivo no diminutivo afetivo com um adjetivo que poderia soar aparentemente negativo, afinal esse poeta das esculturas chama para si a responsabilidade grande e tamanha de fazer dos escombros partituras musicais para a visão dos que sabem ver com ternura por trás da menina dos olhos: então se encantar com sua produção equivale a ouvir uma ópera secular, um heavy eterno, uma orquestra, um coral, sons que se confundem na beleza das notas em desmaio num êxtase aceso.

O divino que habita o interior do Demo(lidor) se equilibrando no fio do tempo cada vez mais abre suas asas e leva seu estilo artístico para as lonjuras do que nosso olhar possa alcançar, se expande acima do asfalto, se mantém menino observador do mundo, curiosidade acesa almejando o aprimoramento do que faz para soltar mundo afora... Um fora para povoar nosso dentro que, mesmo quando esteja seco, terá a umidade da arte como “as águas de março fechando o verão” e será “pro­messa de vida no nosso coração”.

Se atente: esse artista será um documentário transpirando memória, história, infância... Voz de mãe soprando cantigas de ninar, voz de pai num convite para a Terra com belezas povoar. The show must go on.

Paulinho Demolidor e o fogo para a gênese de sua arte

 

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Postado por Mariana Carvalho, no dia 22/02/2022 - 14:30


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