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Educação


A elite e um lugar ao sol



A elite não gosta de revolução. Gosta de solução. Principalmente, se a solução for garantir seu lugar ao sol. É para isso que escolas de São Paulo estão contratando professores para terem salários de até R$20mil.  Sempre defendi a ideia de que os pequenos são os mais acessíveis às revoluções, pois dentro de seu status quo não têm muito que perder. Porém, quando implantam soluções alternativas e os resultados aparecem, promovendo grupos minoritários, a elite se apropria das ideias e as divulga como se fossem dela. Elite não prega idealismo. Elite se apropria de tendências que dão resultados. E quando os resultados ganham realce social, a elite vende as ideias que não eram dela. É o que se pode observar na matéria publicada, recentemente, pelo Jornal O Globo.

?A Escola Concept, que vai abrir em fevereiro, na capital, cultiva o slogan ?bem além da lousa, carteira e giz?. Ao mesmo tempo, colhe os frutos da tradição ao se instalar em um prédio na avenida 9 de Julho, onde existia o Colégio Sacré Coeur de Marie. Católico, foi fundado em 1938 para atender só meninas e formou boa parte da elite paulistana. Fechou as portas nos anos 1990 por falta de alunos.

A Concept faz parte do Grupo SEB, do empresário Chaim Zaher, e já tem unidades em Ribeirão Preto e Salvador. Quem cuida da nova escola é a filha de Zaher, Thamila. ?Fomos aos países referências em educação para descobrir qual o fator de sucesso numa escola inovadora. A resposta foi a formação do corpo pedagógico.? O colégio então pôs headhunters em busca dos ?melhores do mercado?.

?O que mais me motivou não foi a proposta financeira e, sim, a oportunidade de construir uma escola do zero, em que o aluno é o protagonista e o professor o ajuda a crescer?, diz Elizabeth Toutin, de 39 anos, que era da Beacon School, na Vila Leopoldina, e foi para a Concept. A escola terá aulas com formatos diferentes e procura docentes com ?perfil de mediador e não apenas que saiba entregar o conteúdo?, diz Thamila?.

Para atrair professores, as escolas oferecem salários altos e benefícios não tão comuns no mercado. A remuneração chega a R$ 20 mil, 40% acima da média paga a profissionais que atuam no ensino médio de escolas particulares de elite (R$ 14 mil), como o Bandeirantes. Segundo a tabela do Sindicato dos Professores de São Paulo, alguns grandes colégios, como o Porto Seguro, pagam cerca de R$ 8 mil para docentes do ensino fundamental I. E outros têm salários de R$ 5 mil para educação infantil.

Esses dados ilustram bem a disposição da elite em aderir a novas ideias de currículo escolar, virando as costas ao modelo tradicional de escola que sempre lhe deu um lugar ao sol. Honestamente, preciso admitir que a elite não está errada. Acostumada a ter participação ativa nos processos históricos, para assegurar privilégios, ela está aberta a aplicar ideias revolucionárias, esvaziando o poder de contestação dessas ideias e as transformando em rotina que lhe traz resultado e se dá muito ao final de tudo.

Sempre apostei que as pequenas escolas conceberiam a mudança da prática docente, mas que os grandes se apropriariam dela, quando percebessem o potencial dessa mudança. Pena que os pequenos começam, mas param pelo caminho. Enquanto as grandes escolas amortecem o ideário revolucionário da mudança, garantindo acompanhamento personalizado de seus alunos, as pequenas, naturalmente já prontas para isso, ficam pelo meio do caminho, com professores brigando entre si, com salários de fome e perdem o sinal verde da história. 


José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: [email protected]



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Escrito por Educação, no dia 26/01/2018




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