Foco e concentração foram as duas palavras discutidas na edição da semana passada. Tentei mostrar que se trata de um desafio à escola de tempo integral, pois exigem duas atitudes cerebrais nada comuns à sociedade contemporânea de modelo altamente disperso e de grande complexidade de relações.
Na edição desta semana, vamos apresentar alguns tópicos da entrevista dada pelo Secretário da Educação do Espírito Santo. Sugiro que você se atente às questões relacionadas à evasão escolar, à aprendizagem e às políticas públicas necessárias à continuidade da oferta de uma escola de ensino integral.
Há evidências de que a escola integral é melhor? Nossos dados são parciais, mas o rendimento na escola integral é superior ao da escola regular de forma significativa. Também no ensino médio, trabalhamos com metodologia do Instituto Unibanco para melhorar a gestão da escola, com foco na aprendizagem. Aplicamos em 85% das escolas regulares neste ano e, no ano que vem, vai atingir 100% das escolas.
E o segundo eixo? Investir nos anos finais não é suficiente, porque o processo de formação começa na creche. Aí entra o pacto da aprendizagem (Paes), inspirado no programa de alfabetização na idade certa do Estado do Ceará. É um termo de cooperação que se desdobra em formação de professores, investimento na estrutura, metodologia de avaliação. Começamos em janeiro e 42 dos 78 municípios aderiram. Queremos chegar a todos.
O senhor falou em 300 escolas integrais em 2030. Mas como blindar a política pública para impedir que ela seja abandonada por um futuro governo? Há quatro ações. A primeira é um planejamento que envolva sustentabilidade financeira. Não adianta ter um bom projeto sem recurso para implementar. Estamos projetando a expansão gradativa da rede escolar já avaliando o que a situação econômica e financeira do Estado suporta: qualquer governo que entre tem o plano e a garantia financeira. A segunda é instituir as políticas por lei, depois de debate intenso. No Escola Viva, houve cem dias de debate. O Paes também foi aprovado na Assembleia. Uma terceira medida é comunicar claramente a vantagem da política para os cidadãos que dela se beneficiam. Por fim, ter parceiros públicos ou privados. Se tenho parceria da universidade federal, de ONGs apoiadas por empresas, isso ajuda a manter as ações.
Apesar dos bons resultados, o Estado avançou menos nos anos finais do ensino fundamental. Quais as barreiras? De fato, isso é um fenômeno nacional. Do 1º ao 5º anos há uma melhoria mais acelerada, e do 6º ao 9º, com menos potência. Há dois fenômenos. Um é interno: do 6º ao 9º ano muita coisa muda para a criança. Está passando para a adolescência e deixa de ter uma professora para ter dez. E a escola não tem uma metodologia bem articulada para que todos os conhecimentos ali passados façam sentido. Há também uma questão externa. Adultos e crianças hoje são muito afetados por tecnologia, redes sociais, trocas de informação. O mundo está muito dispersivo, e aprendizagem exige foco e concentração.
É um desafio adicional para a escola. Além do desenvolvimento acadêmico e cognitivo ? ler, escrever, fazer contas, interpretar história ?, a escola terá que se preocupar com o desenvolvimento de competências socioemocionais: metodologia para que as crianças aprendam a administrar suas emoções, trabalhar em equipe, ter foco, persistência, resiliência.
O que estão fazendo? Desde maio, com o Instituto Ayrton Senna, estamos elaborando o currículo socioemocional para os ensinos infantil, fundamental e médio. Definindo que competências precisam ser desenvolvidas e metodologia para isso.
Quando fica pronto? Até março de 2018, quando será combinado à base nacional comum. Isso dará um novo sentido à escola. Ela terá um novo sentido para o aluno, e vamos conter a evasão e a reprovação. Já há pesquisas que mostram que, quando se desenvolve a capacidade de relacionamento dos alunos, se reduz o abandono escolar.
Fonte - Texto com título e
parágrafos adaptados, disponível na
Folha de São Paulo, link Cotidiano.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 27/12/2017