O verbo cuidar tem uma explicação muito bonita e dá gosto saber. No mundo acadêmico, a gente diz que a origem de uma palavra vem de uma raiz etimológica. Ele está ligado à palavra cuidado e, por extensão, a colo, à pessoa culta e a culto religioso, a cultivo e à cultura. De acordo com a professora da USP, Maria da Glória Gohn, ?O termo cultura, segundo a etimologia da palavra, provém do latim medieval, a partir do verbo latino colere que significa cultivo e cuidado ? com plantas, animais e tudo o que se relacionava à terra e à agricultura.?
Já para o historiador Alfredo Bosi, ?As palavras cultura, culto e colonização derivam do mesmo verbo latino colo, cujo particípio passado é cultus e o particípio futuro é culturus. Colo é a matriz de colônia enquanto espaço que se está ocupando, terra ou povo que se pode trabalhar e sujeitar.? Dessa forma, o verbo cuidar, palavrinha pela qual a humanidade está clamando, está ligado a várias outras de sentidos complementares como colo e cultivo, culto e cultura, sujeição e libertação.
É possível perceber que o termo colo e cuidar têm aspectos, tanto positivos quanto negativos, sobretudo, levando-se em conta que colo tem um significado básico de ?tomar conta de? que, em última instância, implica em cuidar, mas implica também em sujeitar alguém, controlar alguém fazer uma pessoa ser dependente de outrem.
Deixando de lado essas explicações acadêmicas, importa refletir agora sobre como as pessoas estão carentes de cuidado, cultivo e colo. A humanidade contemporânea não está recebendo o colo da compaixão e da gratidão, o colo da tolerância à diversidade e da paz. A humanidade não está recebendo cuidados. Por isso, ficou agressiva. A humanidade está deixando de ser cultivada e está perdendo vitalidade, ficando seca, violenta, sem referências e sem rumo. Esse é o preço pelo tipo de sociedade e modus vivendi que construímos nos últimos séculos.
Eu vejo os profissionais da ajuda, como gosto de chamar os psicólogos e professores, médicos e enfermeiros, psicanalistas e psiquiatras, pedagogos e assistentes sociais, entre outros, na luta para dar colo a pessoas cada vez mais carentes de atenção, enquanto políticos montam cultos às autoridades, quanto mais bandidas mais amadas.
Vejo os profissionais da ajuda tentando promover a autonomia emocional, intelectual e psicológica das pessoas, enquanto religiões e governos trabalham as mentes, para sujeitar os indivíduos à ignorância, ao fanatismo e à cultura do conformismo e da submissão. Uns colocam no colo para libertar. Outros, dão colo para controlar mentes e atitudes. É preciso advertir para os colos que escravizam, sem deixar de mostrar gratidão aos colos que dão atenção às pessoas e que existem, para ajudar na evolução do pensamento humano.
Aqui, eu me reporto a algumas de minhas aulas no curso de Enfermagem na universidade, onde aprendi muito, principalmente com as alunas que já atuavam como enfermeiras. Elas me fizeram perceber como a capacidade para ouvir o doente era o grande colo e cultivo que elas vivenciavam com pacientes que não queriam ter alta médica, pois sabiam não encontrar o mesmo cuidado que estavam recebendo delas. Foi dessas profissionais que ouvi que muitos pacientes se apegavam a elas, e não aos médicos, por mais conhecimentos científicos que eles tivessem. Foi delas que ouvi também que várias pessoas retornam ao hospital, querendo revê-las e levando presentes.
Muitos homens cultos cultuam a si mesmos e não se rendem ao culto de respeito às pessoas e à humanidade. Esses não cuidam. Esses não ?tomam conta? das pessoas, para promover evolução, mas para sujeitá-las aos seus caprichos. Precisam aprender uma palavra humanista vinda do sânscrito: Namastê - ?Eu saúdo você!?
Quando formos capazes de saudar as pessoas pelo reconhecimento da dignidade delas, seremos capazes de colocá-las no colo, cuidar delas e construir a cultura do respeito às diferenças e às diversidades. Só, então, estaremos prontos para proclamar o namastê. Creio que o espírito natalino possa nos ajudar nesses propósitos. Assim seja!
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 14/12/2017