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Educação


Homenagens e suicídio



Bem recentemente, Luiz Antônio Jarcoviz se aposentou na escola estadual Almirante Custódio José de Melo, no bairro Nova Granada, na Vila Leste de São Paulo, e foi recebido de forma festiva, conforme pode ser visto no https://www.­you­­­tu­be.com/wat­ch?v=yalPuqIudWE. Vale a pena conferir o vídeo, que traz a última parte da música ?Certas coisas pra dizer?, de Jorge Trevisol.

Precisamos pensar nossa cota de responsabilidade social sobre o que o professor de 64 anos diz acerca dos desafios atuais de estar em uma sala de aula; sobre os rumos da educação escolar. ?[...] Jarcovis admite que nem sempre foi fácil ser professor. Às vezes, por causa da indisciplina dos alunos, pensou em desistir da profissão.? "Tive problemas em outras escolas. Casos de desrespeito ao professor. Alunos andando pela sala, saindo da sala sem permissão e, mesmo depois de serem repreendidos, reclamando. Mas ser professor foi a melhor coisa que eu fiz. Estou muito certo de que cumpri meu papel", afirma.

Ele também menciona a desvalorização do magistério. "Desvalorização é muito grande. A gente não vê nenhum projeto para minimizar essa questão. Os salários são muito baixos". "Além disso, há alunos que precisam de uma recuperação muito forte. Às vezes, sem saber nada", completa. Jarcovis diz ainda que viu uma mudança no perfil dos alunos e da família ao longo dos anos. "A amizade entre aluno e professor tem ficado cada vez mais difícil. Já as famílias não acompanham mais o estudo dos filhos. A gente percebe que os pais não fazem nada por eles. É claro que não são todos. Têm muitos ainda que pegam no pé". Ele ressalva que, diante de tantas dificuldades, para ser professor, é preciso "ter amor pelo que faz".

O professor diz que recebeu muito incentivo, para realizar seus sonhos, dos pais que eram ?quase analfabetos?. Como também do professor Edson Souto Ramos que lhe serviu de inspiração e lhe deu até mesmo apoio financeiro, para se tornar professor e chegar às salas de aulas.

Segundo a matéria, cujos créditos são da Folha de São Paulo, para Jarcovis, ser professor "foi um sonho desde que criança" - um sonho, no entanto, que ele foi forçado a adiar porque teve de começar a trabalhar para ajudar financeiramente os pais (ele passou 22 anos trabalhando como técnico em eletrônica antes de ingressar no magistério). "Tinha de ajudar minha família e precisei arranjar emprego. Aos 14 anos, já estava trabalhando de carteira assinada", acrescenta.

Paralelo a esse caso real, no mesmo dia achei na internet o relato sobre o suicídio do empresário, João Alberto Ferrão, da rede Park, de 63 anos, quase da mesma idade do professor Jarcovis. Ferrão suicidou-se depois de matar a esposa, 50, advogada, que havia lhe pedido divórcio depois de 13 anos de convivência. O casal vivia uma crise conjugal, apesar de ela ter sido ?a única mulher que ele realmente amou?, segundo amigos mais próximos.

Vale destacar que, segundo a reportagem sobre o caso, o casal vivia numa cobertura de dois andares no Itaim, zona oeste de Florianópolis. Além disso, ?os dois costumavam ir a restaurantes com amigos ou promover jantares em casa ? Renata gostava de cozinhar. ?João sempre foi mulherengo, bon vivant.? Por outro lado, era de conhecimento de todas as pessoas próximas que João sofria de depressão. ?Mas ele fazia tratamento e, pelo que sabíamos, a situação estava sob controle?.

Compare os dois casos. Confunde nossa cabeça. Não que eu concorde com os discursos piegas e quase religiosos de que docência é sacerdócio, missão, ou coisas afins. Sei que muitos professores estão doentes e deprimidos, mas parece que a estatística de suicídio entre nós é pequena. Por que os professores não suicidam, apesar dos baixos salários, da falta de respeito dos alunos e da falta de reconhecimento social? Talvez, Trevisol nos ajude a responder isso com parte de sua música: ?O que eu penso a respeito da vida é que um dia ela vai perguntar: o que é que eu fiz com meus sonhos? E qual foi o meu jeito de amar? O que é que eu deixei pras pessoas que no mundo vão continuar??



José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: [email protected]



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Escrito por Educação, no dia 17/03/2017




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