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Educação


Persistência e inteligência



"Por que a capacidade de trabalhar duro não é considerada um talento natural?" Qual a base do sucesso escolar: persistência ou inteligência? As escolas estão preparadas para formar os alunos para a habilidade socioemocional da persistência? Essas perguntas são introduzidas e um pouco discutidas nessa matéria, cujos créditos são da FolhaUol. A pergunta é feita por Garry Kasparov, um dos maiores jogadores de xadrez de todos os tempos, em sua biografia, publicada há uma década. No livro, o enxadrista conta que, quando se tornou o mais jovem campeão mundial do jogo, aos 22 anos, em 1985, passou a ser questionado frequentemente sobre o segredo de seu sucesso. Rapidamente percebeu que suas respostas decepcionavam. Isso acontecia, por exemplo, quando ele dizia que sua memória era boa, mas não exatamente fotográfica.

E o talento inato para o xadrez? Segundo Kasparov, seu pai percebeu muito cedo que ele tinha jeito para o jogo, mas que essa característica só se transformou em uma super habilidade porque sua mãe o ensinou a estudar e praticar com afinco. A capacidade de perseverar descrita pelo enxadrista pode ter menos glamour do que a inteligência, mas tem aparecido com frequência crescente nas pesquisas sobre educação.

Estudiosos do tema, como a psicóloga americana Angela Duckworth, da Universidade da Pensilvânia, têm afirmado que a determinação é crucial para a aprendizagem. Em um de seus muitos experimentos detalhados sobre o assunto, Duckworth e Martin Seligman concluíram que a autodisciplina era um indicador duas vezes mais forte do que o QI (coeficiente de inteligência) para explicar as diferenças entre as notas de alunos dos EUA no fim do ensino fundamental. A contundência de descobertas desse tipo fez a preocupação sobre como ajudar crianças e jovens a desenvolver habilidades como a persistência ultrapassar os muros da academia e chegar aos formuladores de políticas educacionais. É um debate tanto instigante como complexo.

A crença na inteligência como principal explicação para o sucesso escolar, profissional e pessoal prevaleceu por décadas. Isso talvez se explique por que medir atributos como a capacidade de identificar padrões e fazer contas é mais fácil do que avaliar a tal habilidade para trabalhar duro descrita por Kasparov. Ser dedicado pode significar estudar três horas por dia para um aluno e seis para outro. Quanta perseverança é necessária para melhorar a aprendizagem?

Experiências como a de alguns países asiáticos mostram que o excesso de disciplina pode acabar sendo prejudicial à saúde, ainda que garanta resultados brilhantes em testes de aprendizagem. Como atingir o equilíbrio? A lista das chamadas habilidades socioemocionais ou competências do século 21, mencionadas como importantes, é longa. Dedicação, autocontrole, extroversão, capacidade de trabalhar em grupo e de sentir empatia são apenas algumas delas. É viável trabalhar todas na escola? Como? Estudiosos reconhecem a necessidade de mais pesquisas para responder a essas perguntas.

A falta de respostas mais conclusivas não invalida, porém, as tentativas de reformular currículos com base no que já é conhecido. As experiências nessa direção têm servido como insumo para avaliar as iniciativas de maior e menor êxito. É, portanto, alentador o fato de que o governo brasileiro pretenda incluir as competências socioemocionais na Base Nacional Comum Curricular, como revelou o jornalista Paulo Saldaña em <a href="http://www1.fo­lha.uol.com.br/educacao/2016/12/1844340-base-nacional-comum-curricular-vai-incluir-habilidades-emocionais.shtml">reportagem sobre o assunto</a>. A divulgação do documento é esperada, com atraso, para o próximo mês.

Embora seja o ponto de partida, a base precisará apresentar diretrizes claras, fundamentadas nas melhores experiências nacionais e internacionais. Só assim conseguirá guiar as redes na formulação de currículos capazes de melhorar o sofrível desempenho dos estudantes brasileiros.?


José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: [email protected]

Fonte com título adaptado:

<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ericafraga/2017/02/1858846-persistencia-e-mais-importante-do-que-inteligencia.shtml. Acessado aos 15/02/2017.

 



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Escrito por Educação, no dia 03/03/2017




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