O debate sobre a falta de base de muitos alunos do ensino médio em matemática na rede pública continua sendo um sério e requer intervenção pedagógica urgente. Em duas edições anteriores, publiquei dados de uma pesquisa oficial que mostram o fracasso em queda livre dos alunos por quatro anos consecutivos. Agora, a notícia é estarrecedora: muitos não sabem regra de três. Que tipo de cidadania terá um jovem do século XXI incapaz de fazer uma operação matemática tão simples como a regra de três e que precisam de calculadora para saber quanto equivale dez ou vinte por cento de um determinado valor, ou dessas mesmas porcentagens em dados estatísticos? Seria preciso ser matemático para ter esse domínio de conhecimento?
Essa incompetência se torna mais grave, considerando que os dados abaixo são de escolas públicas do estado brasileiro onde pulsa o coração industrial e econômico do Brasil. ?Apesar de o Idesp, indicador oficial da rede paulista, ter subido no ensino médio em 2016, quase metade dos alunos terminam essa etapa sem aprender nem o básico em matemática. São estudantes que saem da escola sem conseguir resolver, por exemplo, problemas que envolvam proporcionalidade e regra de três. A proporção de alunos nesta situação de dificuldades extrema aumentou. Passou de 44% dos alunos, em 2015, para 48% em 2016. Somente 0,3% dos alunos do 3º ano do médio apresentaram na avaliação do ano passado uma proficiência considerada "avançada". É o mesmo patamar do ano anterior.
A própria Secretaria de Educação faz a divisão entre quatro níveis. Abaixo do básico, básico, adequado e avançado. A pasta considera que, a partir do "básico", os alunos já aprenderam o que é chamado de "suficiente". Os níveis são divididos a partir das notas da escala de proficiências da avaliação oficial, o Saresp, que aumenta progressivamente desde os iniciais do ensino fundamental até o médio. Na comparação com português, a proporção de alunos no nível "abaixo do básico" é sempre maior em matemática. Nos anos iniciais (5º ano do fundamental), são 16% nessas condições. Quantidade menor que em 2015 (quando eram 19% nesse nível). Nos anos finais (9º ano), 28% dos estudantes não aprenderam o básico. Os dados nessa etapa também mostram piora na comparação com o ano anterior, quando 24% estavam nesse nível.
Para a pesquisadora Katia Smole, consultora em ensino de matemática, os alunos não têm dificuldade de aprender matemática. Os problemas estão na estrutura de aulas. "Para trabalhar boas aulas, é necessário saber o que ensinar e como é que o aluno aprende. Há problemas nessas duas partes", diz ela. Ela ressalta que os professores não podem ser responsabilizados sozinhos. "Com os dados, estamos avaliando todo o sistema, e o sistema tem grande responsabilidade."
Infelizmente, a pesquisadora não esclarece, nesse argumento, a qual das partes ela atribui a culpa ou falha da ?estrutura de aulas?. Aos professores? Ao sistema? Aos dois? Como e por quê? Em que proporções? Percebe como existem várias questões a serem discutidas? Por fim, ela não esclarece qual é o problema que ela identifica na estrutura das aulas.
A isso, segue a
situação da disciplina de Português. ?Os resultados de português do ensino
médio tiveram avanço, apesar de indicadores ainda fracos. São 31% dos alunos
abaixo do básico nessa disciplina. Percentual alto, mas menor do que em 2015,
quando havia 34%. Há 0,8% no avançado -contra 0,4% em 2015.? Honestamente, qual
microempresa, empresa ou megaempresa ficaria de pé no mercado com apenas esse
?faturamento? anual? O prejuízo social da escola por causa dos desperdícios de
tempo, energia elétrica, energia e capital humano, é brutal! E você acha isso
natural? Desculpe, mas estamos diante de um problema de dimensões muito graves.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: [email protected]
Dados disponíveis em http://www.nossasaopaulo.org.br/noticias/metade-conclui-ensino-medio-na-rede-publica-de-sp-sem-saber-regra-de-tres . Acesso 12/Fev/2017.
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Escrito por Educação, no dia 24/02/2017