Aos três anos de idade, meu filho escolheu onde queria estudar. E, pelo menos eu, não me arrependo disso. A decisão de deixá-lo escolher foi negociada com a mãe dele. Foi uma das atitudes de que mais me orgulho hoje. Sempre entendi que crianças têm sentimentos e vontade, mesmo não tendo discernimento completo sobres eles. Sempre parti do princípio de que elas podem não saber, claramente, o que querem, mas sabem o que não querem. E expressam isso de forma muito rica. Os adultos é que não percebem.
Saí com o Lucas para visitar escolas na cidade. O critério foi ver as mais viáveis ao itinerário de quem fosse levá-lo: a mãe ou eu. Ainda meio arbitrários, contrários à liberdade de escolha que eu defendia, mas era preciso conciliar a decisão dele com as nossas possibilidades. Antes isso do que a imposição da vontade adulta como palavra final. Fica já uma reflexão e questionamento aos que decidem ?o melhor para as crianças? alegando que elas não sabem ou não têm ainda idade para escolher: a história de jovens e adultos medrosos e sem iniciativa são em boa parte derivadas de atitudes equivocadas de adultos também podados um dia.
Meu filho escolheu uma escola com a qual se identificou, ainda que não correspondesse à proposta pedagógica que eu esperava. Mas isso já era coisa de professor que lia sobre pedagogias alternativas. Nunca existiram de maneira plena por aqui, na cidade e região. Importa é que ele escolheu uma escola de que gostou e, de fato, foi uma decisão feliz. Só saiu de lá, quando entrou no Ensino Fundamental II.
Minha filha Letícia também fez sua escolha. Ela ia comigo algumas vezes, levar ou buscar o Lucas e se encantou desde cedo com a escola do irmão. E não teve nenhum problema de adaptação, da mesma forma que ele. Ela estava em vantagens, pois ele era referência familiar para ela, mas poderia ter feito outra escolha. Eu me orgulho de ter dado o direito de ela escolher onde queria estudar e não me arrependo da decisão.
Quando o Lucas fez o Enem, passou em três universidades federais e tinha duas engenharias em vista para escolher: ou a elétrica ou a mecânica, além de Geofísica. A última palavra foi dele: Engenharia Elétrica no Cefet-MG. Pode ser que ele descubra não ter feito a escolha certa, mas fico a pensar se ele teria a maturidade suficiente mesmo para errar, se não tivesse sido o mínimo respeitado na sua escolha quando criança.
Quando Letícia chegou ao Ensino Médio, queria sair da cidade. Defendi, novamente, o direito de ela escolher as escolas onde participaria da seleção. Ela foi aprovada, mas ficou por aqui. Fui voto vencido diante dos familiares que discordaram da ida dela por ser muito nova. Ela foi ser aprovada em duas dentre quatro escolas onde participou da seleção. E dentre as duas, escolheu a que queria. Mais uma vez, me sinto orgulhoso do que fizemos.
Letícia e eu tiramos um dia para conhecer melhor as escolas. Ficamos pelo menos por três horas em cada uma delas. Visitamos as dependências, conversamos com representantes da coordenação pedagógica, do administrativo e do financeiro. Saímos com a decisão tomada por minha filha. Fizemos muitas perguntas, para termos critérios de escolha. Deu certo!
Pode ser que meus filhos não sejam felizes, pois felicidade e sucesso são experiências pessoais e fogem a qualquer preparação escolar e ao controle da ciência. Todavia, penso que estão mais preparados para alegrias e desafios da vida, com o direito que tiveram de escolher a escola por eles mesmos. Passamos boa parte da nossa vida nela. Tem de ser céu.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 05/12/2016