Não bastasse o fantasma do discurso sobre escola sem partido, agora aparece a tentativa de excluir a Filosofia e a Sociologia do currículo do ensino médio, ou de transformá-las em temas transversais. Os créditos do texto abaixo são do inteligente filósofo, Paulo Ghiraldelli. A primeira parte do penúltimo parágrafo foi retirada.
"O relator da Reforma do Ensino Médio, senador Pedro Chaves (PSC), fez exatamente aquilo que o ministro de FHC, Paulo Renato, sempre quis, e que o governo Dilma endossou: o fim da Filosofia e da Sociologia na grade curricular dos jovens. Aprendeu bem a lição, e apareceu do passado com o discurso típico: ?não defendo o fim da filosofia e sociologia, mas sim a transformação delas, junto as artes, em temas transversais?. E completa: ?esses assuntos podem muito bem caber nas aulas de história?. Pois é: ?temas transversais?, lembram? Novamente transversalizaram o saber filosófico e sociológico.
Na prática, o que o governo está fazendo é voltar ao tempo da Ditadura Militar, mas de modo piorado. Entre 1971 e 1985, Filosofia, Sociologia e outras NÃO deixaram de existir, mas ficaram restritas aos alunos que tinham que se mobilizar para criar uma ?classe de ciências humanas?. Eu fiz isso no meu colégio. Mas era difícil os alunos se mobilizarem para tal. A maioria seguia aquilo que era oferecido. Agora, a situação é pior: pois mesmo que o aluno entre para uma escola que tenha todas as áreas previstas (Linguagens, Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza ou Ensino Profissional Técnico), ainda assim não encontrará as disciplinas Filosofia e Sociologia e Artes. Ao menos será assim se vingar o parecer do relator senador Pedro Chaves.
É triste ter que de novo reeducar um senador, perdido na argumentação dos Gianottis e pupilos da vida, os que dizem por aí que filosofia é complicada demais para ser vista no Ensino Médio e o que vale é ter um bom curso de História, Português etc. É duro ter de reeducar, também, os que estão com a cabeça no ?Escola Sem Partido?, que acham que Filosofia e Sociologia são disciplinas ideológicas, ?fábrica de esquerdistas?, e que Artes é fábrica de ?vagabundos e homossexuais?. Claro que pessoas como o senador Pedro Chaves não dizem isso, mas, na prática, favorecem esse tipo de coisa.
[...] Não percebem, também, que não há tempo para se ler A República, de Platão, na disciplina de História, e que sem uma tal leitura não se fez nada no Ensino Médio, nada mesmo. Há livros de filosofia que são para serem lidos, ao menos em uma primeira vez (talvez a única), antes dos 18 anos. Para ler Machado de Assis é necessário sim base de filosofia. Caso contrário, se lê mal. Mas em um país em que Fernando Pessoa já não consta mais do currículo, por que ler Machado, né? Então, por que ler Schopenhauer, base para Machado? A estupidez já vinha caminhando, ganhou corpo agora, na forma pela qual o espírito de FHC e de Dilma vieram nos perturbar.
Vai ser uma luta as audiências públicas sobre o assunto. E, mais uma vez, teremos que unir forças para explicar para o governo que ele está fazendo um mal negócio. Mas tudo indica que este governo, nesse aspecto, é a continuidade de outros, e que tem uma visão do ensino que visa a economia, ou seja, a retirada de professores. Era o slogan de Dilma na campanha: tornar a escola mais atrativa diminuindo a grade curricular. Ela podia falar, pois os petistas não chiavam. Na prática: tornar a escola mais atrativa para o aluno estúpido, o que não quer estudar. Uma bela união de forças da mentalidade do PSDB com o PT, agora realizada na prática, em meio à fraqueza de todos na crise econômica.
Vamos impedir isso? Conseguimos unir forças para tal?
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 11/11/2016