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Educação


A prova na escola tradicional



Férias podem ser o melhor momento para os professores, diretores e autoridades pensarem, analisarem e questionarem as avaliações na escola tradicional, via de regra, feitas pela prova. Segundo Pedro Demo, "do ponto de vista educacional, podemos dizer que toda avaliação é:

a) sempre injusta: não existe possibilidade de avaliar seres humanos por outros seres humanos de forma justa, porque não é viável estabelecer padrões unitários de pano de fundo normativo, a não ser de maneira muito aproximativa; não há como dar conta de toda a complexidade humana; toda avaliação é, nisso, muito reducionista.

b) sempre incômoda: não é possível desfazer o laivo negativo da avaliação, porque entre avaliador e avaliado estabelecem-se inevitavelmente clivagens de poder: em parte, o poder do professor está em poder reprovar; avaliação é procedimento tão incômodo que o primeiro a fugir dela é o próprio avaliador: detesta ser avaliado;

c) sempre incompleta: não é viável imaginar que o avaliador dá conta por completo do aluno avaliado, já que a avaliação é expressa sempre de alguma forma reduzida, a começar pela ideia encurtada da nota; ao mesmo tempo; [...]

d) sempre ideológica: não se pode camuflar a relação de poder entre avaliador e avaliado; por maior boa vontade do avaliador, acaba não escapando das propensões que mais cedem ao contexto de poder, do que ao contexto da aprendizagem; por vezes, busca-se fugir disso através de "avaliações objetivas" (que resultam geralmente em mensuração rasa de domínio de conteúdo), mas isto é apenas metáfora: este tipo de avaliação acomoda-se melhor às expectativas de mensuração, não à riqueza transbordante da dinâmica da aprendizagem;

e) facilmente autoritária: através da avaliação, o professor tende a impor seu modo de ver, não a promover a habilidade de alternativas criativas; quanto mais reprodutiva, mais autoritária é a avaliação;

f) facilmente excludente: tende a estabelecer o que o aluno não sabe, ou seja, a medir sua ignorância, sem levar em conta o que já aprendeu ou está aprendendo; em vez de estratégia de aprendizagem, decai para a estigmatização.

g) facilmente humilhante: em particular notas podem instilar este estigma, quando se divide a turma entre os que avançam e os que se atrasam, entre os que passam de ano e os que repetem, entre os válidos e os inválidos;

h) facilmente insidiosa: sobretudo quando se produzem escalonamentos dos alunos e se colocam a público, declara-se uma possível corrida pelos primeiros lugares, passando a valer mais o prestígio do que a aprendizagem."

Vivi fortes angústias pessoais ao elaborar, corrigir e devolver questões. Tinha consciência da fragilidade e limites da prova como instrumento de avaliação, sobremaneira por causa da objetividade positivista, que mais funcionou como poder político que intimidava. Não é por pouco que o positivismo está na base dos fascismos e ditaduras ocidentais. Muitos docentes, de Matemática a Física e Química, exerceram poder autoritário, até pouco tempo, colocando por demais complexas. Isso até pouco tempo, quando a gente ainda usava a prova como meio intimidação, para "vigiar e punir" (Michel Foucault). Muitos ainda fazem isso.  Imagine o caos.

Referência:

DEMO, Pedro. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Porto Alegre. Editora Mediação, 2005. p. 57-58.



José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: [email protected]



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Escrito por Educação, no dia 12/08/2016




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