Minha irmã costuma dizer que ?ninguém muda a cabeça de ninguém?. Penso que ela está certa. As pessoas só mudam seus conceitos quando já estão propensas a mudar. Influência externa só serve para impulsionar o "que anda na cabeça, anda nas bocas" (Chico Buarque). Alguém até poderia dizer que as situações que incomodam as pessoas sejam razões suficientes para elas mudarem. Honestamente, isso não me parece verdade. Pelo menos, em se tratando de escola. Ouço professores reclamando das condições de trabalho e de salário, de falta de respeito dos alunos e de muito estresse, mas continuam fazendo "tudo sempre igual" (Chico Buarque), mantendo condição de sofrimento. Aliás, as pessoas preferem reclamar a conflitar. Aprenderam ser obedientes e subservientes. A crença de que conflito é algo negativo, coisa de rebeldes ou revolucionários, gente do mal é algo perturbador. Ópio de muitos educadores.
Não consigo entender que sentimentos levam as pessoas a permanecerem em algo que lhes faz ficar doentes e que não levam a resultados satisfatórios para ninguém, como a escola atual. Assim é com o pensamento religioso, com o casamento, com as relações interpessoais, com o emprego, entre outras experiências da vida. No caso da escola, a tolerância ao péssimo me parece algo muito sádico, tudo bem contrário à virtude. Essa incapacidade para sonhar e construir outras "realidades menos mortas" (Música - Cálice: Chico Buarque) é assustadora para profissionais que dizem formar pessoas para a vida. Qual vida?
A partir dos anos 90, comecei a ouvir docentes se queixarem de seus alunos o tempo todo. Para alguns, nenhum aluno prestava. Isso fazia muito mal a todos, pois contaminava a sala dos professores. Tive embates ideológicos muito chatos com colegas, para quem os alunos eram a pior espécie que podia existir. Lembro de um docente que morreu novo, de enfarte. Ele era fortemente rejeitado pelos alunos que saíam mal em suas provas e as aulas eram um horror.
Não consigo mesmo entender como uns professores podem retornar à escola, na semana seguinte, com a velha atitude e proposta de trabalho, querendo solucionar desafios novos. Vivem a dor de rolar pedra morro acima (Sísifo), sem procurar a ajuda dos outros colegas. Os docentes são individualistas na medida que tentam sobreviver aos seus sofrimentos. Ficam isolados no seu canto, soberbos, mas com enorme baixa autoestima. Acham que podem levar seus alunos a trabalhar em equipe, quando eles mesmo não querem fazer isso. Não são colaborativos e não conseguem trabalhar em equipe. Praticam o tempo todo o que chamamos de contradição performativa, na medida que negam na prática o que defendem nos discursos. Fazem isso, porque detestam ser julgados e avaliados pelos colegas. Temem ser julgados de incompetentes pelos pares. Acaba que, não aceitar ser avaliado e julgado pelos pares é prova de reconhecimento de incompetência.
A violência na escola, com todas as suas variações, começa pela violência do professor contra si mesmo e contra os colegas, na medida que reclamam da falta de espírito coletivo, quando eles próprios não desenvolvem esse espírito em si e entre si. O resultado desse quatro caótico e complexo é o número de professores doentes, com reajustamento de funções, fazendo agressões verbais e físicas entre si e brigando direto com alunos nas salas de aulas. Sinto dó, muito dó mesmo de ter de escrever sobre isso.
O penúltimo documento maior da educação, a LDB 5692/71 foi um produto da Ditadura Militar no Brasil que levou a um acanhamento e conformismo docente. Mas o último, a LDB 9394/96 conquistou avanços inquestionáveis, que sequer são conhecidos pelos professores. A cada dia, eu me convenço de que a dificuldade para realizar mudanças no sistema educacional brasileiro é mais cultural do que propriamente legislativa.
Como é muito difícil quebrar resistências culturais, estamos patinando na educação. São pelo menos 20 anos de atraso educacional com professores insatisfeitos, mas sem moral por serem mal formados, sem preparação teórica e política para reagirem ao sistema. As mesmas perguntas que eu fazia a alunos da graduação anos atrás, hoje assustam os da pós graduação. Além da resistência cultural à mudanças, existe a cultura de que a educação não é um valor maior.
Falta aos docentes perceberem que estamos vivendo momento privilegiado para desmontar e reconstruir nosso sistema educacional. Precisam aprender a abrir sua cabeça e a se abrirem a mudanças. Talvez seja a forma de mudarem a condição do castigo para a de realização pessoal.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 29/07/2016