Não parece tempo de ir a lugar algum. Manuel Bandeira viajou. Foi “Embora pra Pasárgada”. Comenta-se à boca pequena que “era amigo do rei”. Desejo e, necessário se faz, anunciar que meu desejo é me afundar no Botequim do Viana. A propósito, o Viana sabe de tudo ou quase tudo. Ainda é possível que no ambiente dos mais mortos do que vivos, eu consiga locucionar, no sentido de articular, de dizer, de pronunciar as mentiras que conto pra mim mesmo. Sei bem, nesse momento ímpar, que sou mesmo assíncrono, ou seja, uma vida que não se realiza ao mesmo tempo que outra. Rubem Alves aparece do nada e me conta a história das gaiolas. Pergunto: Quantas gaiolas podem existir no fundo de uma alma? Em não tendo mais trabalho por agora, de que serve uma possível – mas impossível –viagem até Ur. Nesses tempos de recolhimento, sei que o Viana esgotou toda sua cota para ouvir devaneios, quimeras, fantasias, até mesmo de Eutrópio, seu cliente icônico. Esse armistício falso entre a vida e a morte, não passa de um oximoro, combinação engenhosa de palavras incongruentes. Que bondade cruel veio do céu? Não parece tempo de ir a lugar algum. Meu coração, rebelde, entretanto, deseja ardentemente fazer um esquisso – primeiros traços de um desenho – da cara da morte no Botequim do Viana. Que seja torpe – infame – minha visita não anunciada, somente um resto de copo é minha passagem para “A CIDADE DA LUA”.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Abril 16, 2020
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Escrito por Silvio Lopes, no dia 17/04/2020