Eutrópio, que se encontra isolado, evidente que em face de sua idade mais avançada – conta ele com 61 anos de idade – pelo que gizou e enviou-me, não se encontra tão temeroso. Sujeito dado às lides difíceis da vida encontra-se, isso sim, atônito. Essa confusão toda que lhe afastou do trabalho e do botequim, na verdade ele tem entendido por moratório, dilatório, que lhe concedeu espera. Entende ele, não se tratar de resiliência, um salto para trás, pelo contrário, cuida-se, de buscar no fundo de seu ser a capacidade de superar, de se recuperar de mais adversidades. Nesse momento perfeito do seu isolamento, concluiu ser profilático, preventivo, escrever que não é capitalista, comunista, anarquista, petista ou bolsonarista. Antes de tudo é um ser vivo racional que tende a conservar sua vida diante da pandemia que se apresenta. Não pode haver mitigação, alívio, atenuação, sem que toda essa entropia, desordem seja jogada esgoto adentro. A questão principal, nesse momento, tanto quanto já escreveu Rubem Braga, é a união incondicional de todos, em não sendo assim “Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões”. Necessário, segundo a missiva, carta, de Eutrópio, que lancemos mão da união, respeito mútuo, que nos agasalhemos na fé em Deus, a partir daí que façamos uso da palavra “exeunt” usada no teatro, para indicar que os personagens politiqueiros, salvadores de ocasião e oportunistas de plantão, saiam de cena. Na verdade, ao entendimento de Eutrópio, vale o uso da locução latina “urbi et orbi” no sentido de que a harmonia entre todos seja estendida ao universo inteiro. Feito isso, se conseguirmos, consoante escritos de Rubem Braga “(...) haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras – com flores e cantos”.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Março 27, 2020
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Escrito por Silvio Lopes, no dia 27/03/2020