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Silvio Lopes


O Empate na América Latina



Compulsando, mas principalmente postulando permissão do tempo,tomo de assalto anotações espavoridas. Vislumbro nelas o quanto o empate é odiado. Não o tenho por hediondo. Na verdade, a meu sentir, nada mais é ou pode vir a ser hediondo.O absoluto das almas ama pouco mais o empoado Kafka. As pregações hodiernas costumam admitir mesmo, que o empate é inexorável tanto quanto a morte. O empate é pecador, é destruição e o holocausto da religião. Ele suprime o pecador e o pecado sendo herege então. O dominador e o dominado não passam de vassalos. Indolentes, os mercadores de Veneza detestam esse substantivo. Alienígena presunçoso, sabido e consabido que persiste sempre, a despeito do desalinho da esperança e vontade dos governantes. Pastores financistas e filósofos globais admitem mesmo a verossimilhança com “O Processo” de Kafka. O empate é meio que nebulosidade intensa. Não sendo céu, nem inferno, menos ainda purgatório,é negação de todas as religiões, é negação da própria vida. Eduardo Galeno, traduzido por Sérgio Faraco, em dissecando as “As Veias Abertas da América Latina”, admite, em linhas gerais, que jamais passaremos uma versta além dele, o substantivo medonho. Ante a presença do empate não cabe a pueril exclamação”Que lindo dia!” Ele toma por piegas a expressão “Felicidade”. Nega, de forma veemente a existência de astros e satélites. Urge, entretanto, que amiúde se declare sua utilidade pública: inibe o crime. Não permite autor e vítima, vencedor e vencido, que então se irmanam na tristeza do que poderia ter sido. O empate qualifica o sonho dos justos. Não sendo terminativo permite a crença de que o Brasil terá um governo imune ao mensalão. Por ora, em face da eternidade da matéria, se deve gizar que o empate vai admoestar todas as almas secas e provar que sua essência não permitiria o incêndio contado por Raul Pompéia.

 



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Escrito por Silvio Lopes, no dia 20/03/2020

Silvio Lopes de Almeida Neto


Advogado

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