Foto: Divulgação
Misto de menino e homem, se aventurou a somente se ser, com plenitude, no meio de tantos outros seres
Prof. Paulo Roberto Antunes
Mestre em Letras
Advogado
E-mail: [email protected]
Deide, o Roberto, morador da alameda 2 de Novembro que dá acesso ao Cemitério Paroquial Nossa Senhora da Conceição, área central de Lafaiete-MG, não será mais visto nas praças e ruas da cidade, caminhando, participando das festas, catando latinhas, tecendo seu mundo muito próprio e pouco entendido por nós. Seu bater de palmas pouco sonoro e riso abafado não mais irá trazer alegria às horizontalidades e curvas de nosso espaço urbano.
Anjo em forma de humano, desde cedo rompeu com suas limitações físicas e foi à luta para viver sua vida de ser racional comum; existência inundada de um sem limite corajoso e exemplar. Herói, com letra maiúscula, desafiou a lei da gravidade, os olhos enviesados de alguns, a intolerância, a falta de empatia... E com o peito aberto ao desafio se impôs, até porque tinha uma legião de fãs que o admiravam e dele cuidavam à distância, com discreto afeto como convém aos especiais, aos de uma decência solar...
Misto de menino e homem, se aventurou a somente se ser, com plenitude, no meio de tantos outros seres, e teve como presente a admiração de muitos. Era perfeito na sua incompletude, na sua dignidade florida – e às vezes ferida –, na sua peculiar maneira de mostrar ao mundo quem era e por que fazia questão de estar aqui, cumprindo uma missão cheia de luz, tanta luz que nos cegou a todos e muitas vezes nos fez perder a compreensão de que compreender o outro é um dos atos mais dignos da humanidade.Vá dançar sua valsa, moço quieto e observador, vá sambar nas esferas do que está fora de nossa órbita, vá persistir se sendo como a si próprio foi, construindo sua identidade inusitada, iluminada. Vá ser fogueira para aquecer outros mundos... E mantenha essa sua paz, paz que a nós todos nos falta; paz que só você e os de coração do tamanho do seu são capazes de guardar e distribuir – como a água distribui a vida, o ar afaga os pulmões, o fogo aquece as singularidades, a terra abriga o bem e o mal nosso.E que muitos outros e tantos Deides continuem a vir ao mundo para serem felizes e nos mostrar o quanto somos quebrados e carentes de amor próprio.
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Postado por Rafaela Melo, no dia 30/12/2024 - 13:18