A palavra decoreba
ganhou sentido negativo. Ganhou sentido expressivamente enfastiante de quem
guarda algo na memória de modo forçado, sem construção de significado e
sentido. Isso é uma tortura. Todos
precisamos decorar algo; guardar algo na memória. Imagine se a gente não
decorasse o endereço de nossa casa? Ou então, aquele telefone de alguém que nos
interessa? Seria cruel, quando não a perda da própria identidade, a
impossibilidade de construir memória histórica.
Mesmo o Enem, que vem
cobrando habilidades nas questões, parte do pressuposto de que, para associar
ideias e conceitos, o estudante passou pelo processo de compreender, reconhecer
e de saber aplicar um conceito. Se isso não é decorar, passa bem próximo. No
mínimo, é apropriar-se de um conceito com autonomia. Está claro que hoje as
avaliações oficiais estão cobrando manejo de conteúdos - e não propriamente
repetição de conteúdos - em provas pelos
estudantes.
Decorar vem de
composição latina, onde cor significa coração. Portanto, decorar é guardar,
imprimir uma informação no coração, transformando-a em conhecimento. E
informação vira conhecimento quando agrega valor ao sujeito, levando-o a se
transformar e a atuar na transformação da realidade ao seu entorno. Isso é
fantástico! Essa capacidade da espécie humana é incrível.
Portanto, decorar algo
é realizar uma façanha incrível. Já cair na decoreba é vivenciar uma tortura.
E, nisso, muitos alunos ainda não acharam seu caminho. Sabem que precisam
decorar, mas muitos resistem a pensar a ideia da coisa que precisam guardar no
coração. Isso requer pensar criticamente, amar o pensado, aprender com o
coração. Penso mesmo que os antigos estavam certos em achar que o coração fosse
tanto o centro da afetividade, da emoção, quanto da razão, do cognitivo.
Para aprender com o
coração é preciso compreender uma ideia, o conceito, processá-lo e
sedimentá-lo. No entanto, para isso virar conhecimento, é preciso pensar
criticamente, sair da preguiça mental para conseguir construir significado e
sentido para o cognoscível, através do coração. Aí, sim, ocorre o conhecimento
profundo. Talvez venha até a sabedoria para além do acadêmico.
Na minha percepção, as
provas do Enem estão nessa direção: apropriação, manejo e aplicação de ideias e
conceitos. Algo bem além da pura decoreba. Portanto, quem vai para as provas do
Enem apenas treinando, pela decoreba, está retrocedendo ao pior dos
vestibulares. Penso que a maioria dos alunos não tem consciência disso. E ainda
que tivesse, continuaria preferindo a decoreba nas provas. Pois se antes apenas
ela era exigida, agora as avaliações estão exigindo que alunos superem essa
fase e decorem, mas aplicando habilidades teóricas.
Talvez essa seja uma
das razões pelas quais as notas do Enem ainda continuam baixas. A tendência dos
elaboradores é de exigir dos alunos a construção de uma cidadania que aprende
com o coração, enquanto a maioria ainda prefere a decoreba que reforça a
preguiça deles em pensar as informações, ainda que saiam mais alienados do que entraram.
Mas estão felizes! A cultura escolar continua uma farsa, defendida pelos
próprios clientes.
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Escrito por Educação, no dia 01/06/2015