Recentemente, uma amiga, moradora de uma cidade vizinha e professora de educação infantil em escola pública, enviou-me testemunhos graves pelo WhatsApp, sobre a desancada da escola pública onde trabalha. Vou apresentar os desabafos dela com algumas intervenções minhas, em duas partes. A primeira vai nesta edição. Evidentemente que essa realidade está presente em muitas unidades escolares de todas as etapas, tanto em escolas públicas, quanto particulares. Se os professores e professoras resolvessem mesmo abrir a boca, tenho certeza de que a sociedade ficaria muito assustada com o que acontece em todos os turnos, na escola brasileira.
Já em sua primeira mensagem, a professora diz: "A irresponsabilidade está geral: pais, alunos e professores estão acusando uns aos outros e ninguém se sente responsável, de verdade, pelas mazelas que estão acontecendo". Essa questão me parece muito grave, pois traz à cena a realidade de uma suposta comunidade educativa que não se engaja. Assim, a professora prossegue, descrevendo o cenário da escola dela: "Guerra entre alunos com troca de palavrões e até mesmo agressão física em certas situações. Quando isso acontece, não adianta mais pedir ajuda à direção, porque eles também perderam muito a autoridade. O diretor eleito pelos alunos, quando não tem ética em sua campanha, fica refém do "voto" deles para uma próxima gestão.
Existe também uma guerra psicológica por meio de palavras dos professores, que tiram a autoestima e esperança dos alunos. É comum ouvir professores dizendo a toda hora: 'Vocês são os piores alunos da escola, a pior turma que já peguei e os piores de todos os anos que já trabalhei. O mesmo professor, ou mesmos professores, usam essa fala em quase todas as salas que leciona. O aluno perde a esperança.'
O aluno não enxerga o professor com admiração. O professor enxerga a maioria dos alunos como peso; estorvo. E os pais enxergam a escola como meio de salvação para uma responsabilidade sobre a qual eles não estão dando conta, que é impor limites. Existe uma indisciplina de alunos e também de alguns professores que não planejam antes. Talvez seja porque o modelo do que era antes não se encaixe mais no novo modelo de aluno. A indisciplina é encarada como um saudosismo de que existiu uma escola onde não havia indisciplina. Olham para o passado colocando enfeites que não existiam e não vejo preocupação em procurar uma mudança real e dialogada.
O professor também está sofrendo muita tortura psicológica em sala de aula. O aluno manda um palavrão e ele fica inerte, porque não tem a quem recorrer: a família, quando chamada, diz, muitas vezes, que não tem firmeza. Quando pede a intervenção do conselho tutelar, eles também não têm muito o que fazer. Até polícia já foi chamada para aluno na escola. Nos últimos meses, houve uma melhora nesse aspecto, porque falamos que onde trabalhamos para educar, tem que ser caso muito extremo para uma presença de policiais. Senão, fica completamente incoerente."
Viu como os desabafos da professora são graves? Espero que administração eleita, com suas secretarias, consiga perceber que a Educação e a Saúde estão pedindo socorro.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: [email protected]
Você está lendo o maior jornal do Alto Paraopeba e um dos maiores do interior de Minas!
Leia e Assine: (31)3763-5987 | (31)98272-3383
Escrito por Educação, no dia 14/10/2016