Já estamos completando o primeiro ciclo de provas nas escolas. Nesse momento, os alunos recebem resultados, aguardando os últimos testes para a nota bimestral. A partir de então, os pais e responsáveis precisam diagnosticar as dificuldades de seus filhos e dependentes. Se todo responsável acompanhasse com empenho as dificuldades escolares das crianças e adolescentes, os professores e diretores não teriam tantos problemas no final do ano. Falta essa cultura preventiva nos cuidadores.
Por outro lado, vale pensar na falta dessa cultura também por parte das escolas. Há situações que são diagnosticadas logo no início do ano, mas a escola não faz nenhuma intervenção pedagógica para resolvê-las. Todavia, quem está na ativa, em sala de aula, sabe que essa intervenção não é tão simples assim.
Pense neste seguinte desafio e conflito: você entra na primeira semana de aulas e diagnostica atitudes como falta de atenção, falta de compromisso, relaxamento, dispersão e dificuldade de aprendizagem em alguns alunos. Seria necessário advertir esses alunos sobre essas condutas, não acha? E se sua atitude for interpretada como marcação, preconceito ou perseguição? É um risco, concorda? Exige muito tato. Pessoalmente, assumo esse risco.
Apesar do poder de nossas experiências docentes ficar cada vez mais relativizado neste mundo em mudanças das mais variadas formas, ainda vale dizer que o tempo de sala de aulas nos dá a condição de diagnosticar o perfil de nossos alunos e suas condições comportamentais, quase sempre, sem erros. Um colega, professor já aposentado, repetia de forma muito irônica que na cultura popular da roça era costume saber se uma pessoa tinha vermes pela cor dos olhos. De fato, eu me lembro, quando criança, de ouvir os adultos dizerem que a anemia das pessoas era vista pela parte de baixo dos olhos. Mas existe a possibilidade de errar nas conclusões. Talvez essa seja a razão de deixarmos as coisas acontecerem para atuarmos somente depois dos primeiros resultados. Como dizem os médicos: vamos fazer os exames para saber como agir após os primeiros resultados.
Penso que em escolas o procedimento teria de ser diferente: a intervenção deveria ser feita antes dos testes, tão logo os pontos fracos e as deficiências dos estudantes fossem identificadas. Assim, com os alunos bagunceiros, ou com pouca base de conhecimento, ou com lideranças negativas, ou com problemas familiares graves etc, seriam tomadas algumas decisões e feitos alguns acompanhamentos. Isso quase nunca acontece, principalmente nas escolas grandes, com muitos alunos ou com poucos profissionais especializados para tais casos. Bem imediatamente, penso que tememos ser apontados como preconceituosos e a possibilidade do preconceito é, realmente, humana. Nisso se constitui um dos conflitos e das tensões na prática docente.
Desde o início do ano, identifiquei pelo menos cinco alunos com uma conduta negativa em uma determinada série. Fiz auto crítica, para ver se não se tratava de preconceito meu, mas passei a observá-los mais. Em situações concretas, ficou notório que gostam mais de jogar bola do que de estudar, que não levam materiais para as aulas, não fazem as atividades combinadas, não administravam bem seu tempo e por aí vai... Conversei com cada um, mas as atitudes ainda não mudaram. Não deu outra: estão se saindo mal nas avaliações.
Se as famílias e cuidadores nos ajudarem, essa tarefa fica menos árdua para nós, professores. Algumas experiências são muito animadoras. Ano passado consegui que alguns alunos percebessem como estavam trabalhando contra si mesmos. A “ficha caiu” e os resultados foram muito positivos. Essas pequenas vitórias nos motivam muito. Só professores sabem!
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Escrito por Educação, no dia 25/04/2015