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Educação


Pare para ouvir seu filho



Em um de seus textos, Rosely Sayão conta que um menino pediu a ela para falar com a mãe que não aguentava mais ouvir a Como pai, sei que nem sempre meus filhos estão dispostos a conversar sobre suas rotinas. Alguns dias, falam para além do esperado pergunta: “Como foi a escola hoje?”. Diz que mal entrava no carro, ouvia a mesma indagação. Possivelmente, sentia que soava falso, sem demonstração verdadeira de interesse por ele.

. Por vezes, se irritam com a primeira pergunta, mesmo reconhecendo que se trata de uma forma de cuidado. Essa atitude é bem imprevisível e, nem sempre, conseguimos entender por qual razão ou razões agem assim.

Mas, a despeito disso, continuo a perguntar sobre a escola e outras rotinas deles. Faço isso como controle e como carinho. E, quase sempre, as duas formam uma coisa só. No fundo, mesmo irritados com as perguntas, nossos filhos gostam delas e reconhecem que controle e cuidado não se excluem, quando praticados na dose certa. O difícil para nós adultos é saber dosar nossas intervenções e ter a honestidade de não fazer as perguntas apenas por fazer.

Como professor, tenho escutado há anos muitos adolescentes dizendo que seus pais nem sabem que eles existem. Não sei o que é mais doído para nossos filhos: concluir que não são enxergados ou que nossas perguntas são da boca para fora. Não são poucos os alunos que se emocionam em sala quando o assunto é a falta de atenção, quando eles só têm aquelas pessoas no mesmo teto.

Ainda que eu seja um professor de estilo ultrapassado, penso que muitos alunos gostam quando conto o significado de algumas palavras. Com frequência digo a eles que “sincera” significa sem tapeação, ‘sem cera’. Uma das versões diz que muitos artesãos romanos vendiam estatuetas feitas com madeira ainda verde e que, com o tempo, abriam-se fendas nelas. Para tapear, artesãos aplicavam nas fendas uma cera que derretia com o calor. Assim, o cliente descobria mais tarde que havia sido tapeado. Esperava uma obra sine cera, na língua latina, sem cera, portanto sincera e tinham em casa, algo com cera. Junto a essa, está a palavra cuidado que tem a mesma raiz de colo, cultivo, cultura e culto.

Sugiro que, nesse momento da Semana Santa, pais e responsáveis desacelerem e façam também o culto da atenção aos filhos, parando para ouvi-los, falando o mínimo possível. Coloque o que eles têm a dizer no colo do ouvido, da atenção e do olhar. Isso vai marcá-los de forma positiva, principalmente nessa época em que todos vi­vemos uma crise de perda das grandes referências e formamos uma sociedade insana, doente dos cinco sentidos, das emoções e dos sentimentos.

Se, de um lado, nossos filhos se aborrecem pelo excesso de nossas perguntas, por outro, constroem sua autoestima quando sentem que elas têm sinceridade e cuidado. Talvez nessa nossa atitude esteja em jogo a saúde social deles.

 



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Escrito por Educação, no dia 10/04/2015




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