Trato de descobrir poesia na parede do outro lado da rua. Sei que a lua vai me confundir, amontoar a pequena esperança. Não existe nenhuma imagem, nenhum santo e muito menos um quadro. Não existe moldura, caixilho ou guarnição para o meu dissipado espectro. Nenhuma fotografia enferrujada me desaponta mais. O enfado moderno, o fastio, venceu a beleza da vida. Nasce morta a própria morte que ontem brincava bem, sem que sua mãe soubesse das traquinagens dela. Cerrada a contrição, dor profunda do pecado, o mendigo, eterno pedinte deitado, pouco ou nada se importa com o acontecido entre a passarela e a plateia. As árvores que plantei, que ele plantou, se foram para esgrimir na solidão do dia ou da noite. Falseta a ideia de querer governar o desgovernado. Certo é, que a próxima poesia deverá ficar distante, tão distante que não possa crucificar as interrogações, as exclamações e principalmente as vírgulas, mesmo as dobradas, que se escondem sob o nome de aspas.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Novembro 04, 2021
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Escrito por Silvio Lopes, no dia 08/11/2021