Recentemente, assisti a uma palestra do antropólogo, Tião Rocha, em que ele mencionou a teoria do copo cheio, uma metáfora pela qual ele faz uma referência sobre dois olhares que podemos lançar sobre a educação escolar formal.
Segundo ele, fomos treinados a pegar um copo que está com líquido pela metade e mirar a parte vazia dele, não considerando como deveria a outra parte. O volume de líquido contido no copo é denominado por ele como potencialidade e a parte vazia ele chama de carências, faltas. Prossegue dizendo que a escola é como esse copo, para o qual fomos treinados a olhar só a partir das suas carências e não para as suas potencialidades. Com uma visão equivocada, tentamos remediar carências da escola com medidas de fora para dentro, com decisões artificiais e não com a potencialidade das crianças e adolescentes, a partir do que eles têm dentro de si mesmos a ser desenvolvido. Com isso, tentamos encher o copo de fora para dentro e não de dentro para fora.
Essa teoria nos remete à ideia da palavra educere que, vindo do grego, significa ‘extrair de dentro’ do educando uma potencialidade de tal forma que ele se torne protagonista da sua aprendizagem, dentro do seu ritmo, seus talentos e suas habilidades. Essa visão vai muito ao encontro de outra teoria cada vez mais divulgada que é a das inteligências múltiplas de Howard Gardner. É a partir do olhar para as potencialidades que algumas escolas e institutos estão começando a rever seus conceitos sobre educação escolar formal e estão criando novos modelos de escolas, com resultados bastante animadores.
Estou visitando essas experiências escolares. É um projeto que estou bancando por conta própria, pelo qual quero pesquisar os seguintes aspectos: tipo de cultura escolar construída por essa nova visão de promoção das potencialidades, grau de satisfação dos alunos e professores com a experiência de um novo tipo de escola e resultados em aprendizagem e desempenho dos alunos nas avaliações oficiais brasileiras.
Eis parte da palestra do professor, Tião Rocha, com algumas adaptações, mas os créditos são dele: “Se nós temos um copo com líquido pela metade, podemos olhar e dizer que ele está meio cheio ou meio vazio. Podemos olhar para o lado vazio ou para o lado cheio do copo. Nós somos treinados a desenvolver mecanismos com um jeito de olhar que nos tornamos especialistas a ver apenas o lado vazio. A gente olha tanto para o lado vazio que a gente, hoje, mede esse lado. O lado vazio é medido pelas carências. E as carências são medidas em termos de saúde, de renda, de economia e de educação e se chama Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). E quando a gente mede o IDH, a gente mede o que falta e, aí, você constrói o mundo das carências. Nós fomos criando essa lógica que hoje faz parte dos projetos”.
Interessa olhar o lado cheio do copo. O lado cheio do copo é o IPDH, o Índice de Potencial do Desenvolvimento Humano (IPDH). É olhar as pessoas pelo seu lado luminoso. Aprendemos a olhar as comunidades pelo sua capacidade de acolhimento, convivência, de aprendizagem e de oportunidade. Como é que as pessoas dão colo, para não perder ninguém, para não ficar ninguém de fora. Como é viver com o outro, que é diferente e não com o desigual; como é que a comunidade trabalha com a ideia da aprendizagem, a ideia dos conhecimentos das habilidades e atitudes. E como é que a gente gera oportunidades.
Quando a solução vem de fora para dentro, não há transformação. Porque o que se mistura não é o que se tem, mas o que se joga. Às vezes o cara tem água, você põe óleo. Aí não se mistura. Não há transformação, há reforma. A transformação é de dentro pra fora. É isso que permanece depois de tudo. Isso que tem de ser aprendido. Quando você aprende isso, estimula a mexer no lado iluminado das pessoas. Aí o que vier de fora se soma. É a isso que eu chamo de pedagogia do copo cheio.
Agora imagine uma
escola construída nessa perspectiva. Creio que ela tem tudo para o grau de
satisfação e o nível de aprendizagem ser animadores.
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Escrito por Educação, no dia 13/10/2015