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Silvio Lopes


As árvores rasteiras



Me pego espiando. Na verdade toda a humanidade espia. Encontro-me entre duas árvores rasteiras. Elas estão delimitadas por um cercado em frangalhos. A alma se encontra também em frangalhos. Sou mesmo filho da revolta. Se me embalou uma luz da ribalta leia-se que era falsa e se persiste é falsa mesmo assim. Todas as coisas daqui, diga-se, são falsas. Vale trezentos reais a ilusão de que tudo vai muito bem. E tem quem diga isso rotineiramente! Na miséria do que devo espiar, percebo que aquele homem, que toda dia vai e todo dia vem, nunca vai saber da alma íntima de sua matéria. E não se renova nunca, eis que jamais admite ser cinzas na matéria que só pode vislumbrar. E simples cinzas, absolutamente entojada, na segunda e principalmente na sexta-feira. Em espiando sempre tenho que a maioria das almas deste lugar se encontra como que no centro de um corredor. Alguém me lembra e escreveu que são homens perdidos em labirintos de eternas preliminares e abusivas bagatelas. Nunca uma verdade minha, sua, dela ou de outrem. Somente a verdade deles. Nestas paragens, homem centrado e que vislumbra o caminho além um pouco dos trezentos reais, não bate na porta e jamais poderá abrir qualquer porta. E se for a porta dos sonhos, do passado, do que foi felicidade, é obtuso, e sua fala será um monólogo de teatro vazio.

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Silvio Lopes de Almeida Neto
Advogado criminalista
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Escrito por Silvio Lopes, no dia 11/10/2019

Silvio Lopes de Almeida Neto


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