UMA AGENDA DO BRASIL
Por certo Rubem Braga haverá de perdoar-me. Preciso do perdão de tudo e de todos. Principalmente preciso que esta agenda conceda-me seu perdão. É certo ser uma agenda senil, tão senil quanto estas palavras. Páginas “importantes” ficam vazias todo dia. Não lhes enviei qualquer pedido de desculpas. Se houvesse uma desculpa talvez fosse mais triste. Foi escrito por ele que “se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste”. Páginas em branco, contudo,não facilitam nada. A propósito, nem mesmo Eutrópio e seu amigo Mustela putorius furo – nos quais desfiro diuturnamente pescotapas –seriam capazes de mostrar-nos a distropia do nosso tempo.Não existe como sair desse aprisco mentiroso em que me encontro. As chuvas já estão se precipitando apressadamente. Cada gotícula se parece com um abutre comilão buscando desesperadamente carne morta e almas mais mortas ainda.Nada vale comprar uma armadura completa de cavaleiro, uma panóplia. Resta observar os homens que não ligam mesmo para as bagatelas do sentimento.Em tempo real, online ou on-line, em linha, se pode vislumbrar o quanto se pode ser feliz e ao mesmo tempo empedernido, na medida em que o Estado mata alguém ou alguém mata o Estado. Sem mais atenção ao Eutrópio e ao putorius me condeno ao desafio contra o Braga, escrevendo –ou rabiscando – não “As Boas Coisas da Vida” e que “Não Ameis a Distância”. Jamais estive em Paris ou em São Paulo. Não desejo estar sentado no banco de uma praça, de lugar nenhum. Inclinado a obsecrar pelo texto perfeito que faça menos dorida essa incoerência, essa discrepância, me despeço desse texto.
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Silvio Lopes de Almeida Neto
Advogado criminalista
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Escrito por Silvio Lopes, no dia 28/08/2019