Foto: Rafaela Melo
Segundo a avó, a ajuda de pessoas que estavam por perto foi a primeira a chegar
Ainda repercute em Lafaiete e região um grave acidente de trânsito que culminou com a morte de três pessoas – entre elas, um menino de dois anos. A colisão ocorreu por volta das 6h30 da sexta-feira, dia 21, na altura do km 577 da BR-40, em Itabirito, e envolveu um carro de passeio e uma van, que transportava pacientes de Lafaiete para tratamento na capital mineira. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os dois veículos bateram de frente próximo à praça de pedágio, no sentido Rio de Janeiro. Com o impacto, o SUV ficou com a frente e o para-brisa destruídos. A van tombou.
O motorista do SUV, de 60 anos, morreu no local, assim como Henrique Ferreira da Silva, de 2 anos. Iza de Souza Gomes foi socorrida e levada para o hospital de Congonhas, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no dia seguinte. Ela era moradora do bairro Resende, em Lafaiete Outras quatro pessoas ficaram presas às ferragens. Uma quinta vítima também ficou ferida. A via foi liberada às 11h46. Os dois sentidos da pista ficaram totalmente bloqueados por algumas horas, e o engarrafamento chegou a somar 9 km no meio da manhã.
O drama das vítimas
Era para ser apenas uma consulta em BH. A manhã começou normal, e como qualquer criança de 2 anos, Henrique não queria se levantar tão cedo. Ele chorou, resmungou, mas entrou no carro do pai. Ele e a avó desceram na altura da passarela da Barreira, onde embarcaram na van de uma empresa que presta serviço para a prefeitura de Lafaiete. O menino teve uma pneumonia em fevereiro e precisou de médico pneumologista. Na falta do profissional para atendê-lo em Lafaiete pela rede pública, o garoto ficou na fila de espera por 4 meses. Quando saiu a consulta, Henrique já tinha melhorado, mas a família optou por levá-lo ao médico na capital para certeza da cura. E foi no caminho que tudo mudou, conforme conta a avó da criança, Cássia Cristina Oliveira de Resende Ferreira.
“O motorista estava dirigindo tranquilamente e em baixa velocidade - até por que estávamos próximo do pedágio quando aconteceu tudo. Quando eu vi, o carro estava em cima da gente. Eu lembro de ter dito: “Misericórdia! Nós vamos morrer". Foram alguns segundos rodopiando na pista e eu senti como se estivesse me afogando. Então percebi que não conseguia mais segurar o Henrique. Quando a van parou no barranco, pensei que ia me levantar e pegar o meu neto, mas minha perna estava presa. Na minha cabeça ele estava dormindo”, conta.
A ajuda de pessoas que estavam por perto foi a primeira a chegar: “Um caminhoneiro chegou, notou que a minha perna estava presa, e vendo tudo aquilo, entrou em desespero e começou a pedir “Ajuda, pelo amor de Deus!” Umas cinco pessoas levantaram um pouco a van e eu tirei minha perna. Depois, viram que não ia adiantar tirar o Henrique. Quando chegou a ambulância da Via 040, embora já soubesse do óbito do meu neto, pedi: “Olhem o bebê primeiro, por favor! Mas só disseram: “Pode ver as outras vítimas, que ele é óbito".
Cássia afirma te sido a última a deixar o lugar: “O pessoal que foi de helicóptero já tinha ido. Os outros, que foram socorridos nas ambulâncias, já tinham ido. Só depois alguém falou: "Ah, ela está com a perna machucada". Aí uma médica, que já tinha pedido para eu sair, pediu desculpas por não me dar atenção antes, justificando que havia muita gente em situação ruim. Claro que eu entendi. Então, pedi para ser levada para a Maternidade, e não para o João XXIII. Eu precisava da minha família comigo”, desabafa.
A despedida - segundo relato da avó, os dois estavam no penúltimo banco, sem cadeirinha e sem cinto de segurança: “Eu ainda procurei o cinto e pensei: ‘Vou prender nós dois’. Mas não achei. Pensei que ele poderia estar embaixo do banco, mas não questionei. Com apenas 2 anos, Henrique nos ensinou muito com sua inteligência e forma de ver as coisas. Era o nosso anjo de luz e iluminava a todos por onde passava”, lembra.
Além de Henrique, também morreram no acidente o motorista do SUV e uma passageira da van: “Eu vi quando o motorista saiu do carro, caiu e faleceu. A Isa, que faleceu no sábado, ficou na janela esperando ajuda. Eu nem vi que ela estava tão mal. Até cheguei a pedir a ela que pegasse a minha bolsa, porque eu não a tinha encontrado. Ela só respondeu: ‘Oh, minha filha, eu estou passando mal demais. Eu não consigo’. E os outros continuaram todos desacordados”, lembra.
Dali em diante, a preocupação foi como dar a mais difícil de todas as notícias: o Henrique não ia mais voltar: “Senti muito por deixar meu neto morto lá. Liguei para a minha irmã, Ana Flavia, para contar o que havia acontecido. Pedi que ela avisasse meu marido, que estava indo para o trabalho. Ele tentou chegar até o local do acidente, mas as vias estavam todas fechadas. Eles também viveram momentos de desespero sem notícias nossas. O mais difícil foi contar para os pais do bebê”.
Sobre o velório, coube à família arcar com todas as despesas. “No dia do acidente, a secretária da Saúde esteve na Maternidade e ofereceu ajuda. Pedi que nos ajudasse com um psicólogo. O profissional foi, mas não prestou o devido atendimento”, reclamou Cássia, que pediu a atenção das autoridades: “O que eu quero agora é que esses políticos olhem por nossa Saúde. Muitas pessoas estão sofrendo nesta BR, buscando atendimento e tratamento. Três pessoas morreram. O motorista da van está internado no João XXIII e passará por cirurgias. Espero que algo seja feito para evitar que outras famílias passem pelo que estamos passando", conclui.
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Postado por Rafaela Melo, no dia 06/07/2024 - 15:20