foto: arquivo jornal CORREIO
A suspensão temporária da utilização do livro “O Menino Marrom”, nas escolas municipais de Lafaiete, teve uma enorme repercussão, alcançando todo o país. A medida, anunciada pela Secretaria Municipal de Educação, teria o intuito de analisar a adoção de uma abordagem mais clara e objetiva, “evitando interpretações equivocadas”. Motivada pela “viralização” do assunto em grupos de WhatsApp de pais e mães de alunos, a condução da questão, por parte dos setores responsáveis, acabou se mostrando, no mínimo, precipitada.
Em tempos de muita opinião e pouco conhecimento, em que as pessoas se posicionam sobre assuntos acerca dos quais pouco sabem, deixar-se levar por uma onda de manifestações é algo “quase natural” – mas pode ser perigoso. Trechos descontextualizados do livro circularam rapidamente por celulares, em toda a cidade. Assombradas por fantasmas construídos com meias palavras, muitas pessoas imediatamente demonizaram a obra de Ziraldo, sem nem mesmo ter uma leitura atenta e completa da história de amizade entre o menino marrom e o menino cor de rosa.
O livro trata de questões muito próprias do ser humano, como afetos, preconceitos, sentimentos positivos e negativos que permeiam nossa existência, desde a infância. Ao trabalhar a obra na escola, com crianças na faixa etária dos 10 anos, a intenção é, pedagogicamente, conduzir tais temas, tendo, o professor, o papel fundamental de mediar as discussões. Assim são as aulas de leitura e intepretação de texto, e é dessa forma que fomentamos uma educação de qualidade, que visa à construção de um ser humano crítico, ciente de si mesmo e do mundo à sua volta.
Tudo isso parece ter sido ignorado pela Secretaria Municipal de Educação, que, ao que parece, embasou sua rápida decisão de suspender as atividades com o livro na barulhenta reação que ecoava do WhatsApp. De acordo com o próprio órgão, a medida pode não ser definitiva. Entretanto, o estrago já foi feito: uma repercussão extremamente negativa, em âmbito nacional, colocando Lafaiete como uma cidade retrógrada, que censura a leitura de um livro infantil, lançado em 1986, que há décadas é usado pedagogicamente, com aval de profissionais da educação. Talvez seja o caso de refletirmos sobre a necessidade de incentivar a leitura – de livros, e não de mensagens em redes sociais – não apenas junto a crianças e adolescentes, mas também por adultos e responsáveis pelas tomadas de decisões em nossa sociedade. Que tal começar pela vasta produção de Ziraldo?
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Postado por Nathália Coelho, no dia 27/06/2024 - 13:20