Marília Alves mostra suas tatuagens sem nenhum preconceito
Aos 72 anos, Marília Alves Cruz Lima é uma mulher livre e plena. Normalista por formação e aposentada pelo TJMG, ela traz em sua pele muito mais que as marcas do tempo que todos nós carregamos. Em traços leves e delicados, revela ao mundo um pouco de si, enquanto afirma, para si mesma, a segurança de quem é dona das próprias escolhas. “Fiz minha primeira tatuagem quando tinha 42 anos. Não tive nenhuma preocupação quanto à dor e o processo de cicatrização foi excelente, seguindo todos os conselhos do tatuador. Hoje tenho outras cinco”, detalha a moradora do São Dimas.
A beleza dos traços desperta elogios, mas também já foi alvo de críticas – especialmente dentro da família – mas nada que seja forte o suficiente para abalar suas convicções: “Faço porque eu gosto e não ligo para o que os outros pensam. É algo só meu; que não prejudica a ninguém. Sempre que acabo um novo desenho, minha autoestima vai a mil. A sensação é de um sonho realizado. Sensação essa, aliás, que já quero sentir novamente”, revela.
Marília Alves não está sozinha. Segundo dados do Instituto alemão Dalia, mais 30% da população brasileira é tatuada. E entre esse público, 75% têm mais de uma tatuagem. O Brasil ocupa a 9ª posição entre as nações onde mais pessoas se tatuam e tem, segundo o Sebrae, mais de 150 mil estúdios de tatuagem. A faixa etária que mais possui tatuagens é a dos adultos entre 30 e 49 anos, segundo a Associação Nacional dos Tatuadores – e a procura vem crescendo entre quem tem 40+.
De dentro para fora
De acordo com a psicóloga Maria Aparecida da Silva, quem se tatua busca, muitas vezes, afirmar e reafirmar a sua própria identidade, expressar aceitação ou mesmo sentir-se parte de algo ou de algum grupo: “A tatuagem pode ser, ainda, uma expressão artística, pode dar significado a uma parte do corpo que expressa um momento em que esteja vivendo, como um novo amor, ou uma situação angustiante. E, independentemente da idade, [a tatuagem] veio no mundo como uma forma de expressar algo de dentro para fora”, explica.
Psicóloga Maria Aparecida da Silva
Se, para os jovens, a tatuagem pode ser entendida, em alguns casos, como um refúgio inconsciente, para o público 40+ ela representa uma quebra de padrões, uma busca de liberdade e autoexpressão. “São escolhas mais ‘conscientes’ pela fase da maturidade”. Na avaliação da psicóloga, o estigma social nessa idade reduziu significativamente e, atualmente, a liberdade para se buscar a autenticidade e realizar as próprias vontades, independentemente da idade, aumentou. Mas ainda é necessário fazer uma avaliação e considerar sempre os cuidados com a saúde do corpo e da alma.
“O aumento e a necessidade de buscar aprovação e ser visto diferente tem um destaque para uma avaliação mais profunda da vida e das emoções da pessoa que escolhe ser tatuada. É muito bom avaliar o grau de aceitação da própria pessoa, o modismo ou a necessidade de esconder uma profunda dor, um vazio existencial e falta de confiança em si mesmo. Nesse caso, é preciso deixar claro que a tatuagem está encobrindo algo que deve ser tratado mais profundamente e não escondido como um falso alívio”, alerta.
Quebrando tabus
Ana Beatriz Souza Lino fez sua primeira tatuagem aos 16 anos. Hoje com 23, já perdeu a conta de quantas possui, mas estima algo em torno de 40, “sempre com espaço para mais uma”, brinca. Há 4 anos, essa paixão pela arte de revelar a identidade na própria pele a colocou do outro lado da agulha e hoje é ela - Ana Bea Tattoo - quem expressa arte em traços finos, com cores e até glitter.
Tatuadora Ana Beatriz Souza Lino
“Todo o tipo de gente busca tatuagem hoje em dia. Meus clientes mais jovens sempre vêm com a presença do responsável e peço que seja a partir dos 14 anos. A cliente de mais idade que tatuei tinha 76 anos”. Para a tatuadora, o acesso à informação, potencializado pela internet, tem tornado as pessoas mais abertas para assuntos que antes eram vistos como tabus, mas que hoje são normalizados:
“Eu vejo que os mais maduros ainda temem ser julgados, mas a verdade é que não existe idade pra isso. Mulheres de 40 anos tiveram essa vontade quando mais jovens, mas acreditavam que não podiam, por pressão da sociedade. Hoje elas vêm trazer as suas filhas e, muitas vezes, acabam sendo incentivadas a realizar esse sonho”, revela. Para Ana Bea, sempre é tempo de se expressar: “O meu conselho é: não se importe com a opinião de ninguém! Não deixe de fazer algo por você para agradar os outros, porque isso nem sempre é recíproco. Então, se tatue, corte e pinte o cabelo, seja feliz, viva!”.
Rebeldia e eternidade
Graduado em Gestão da Qualidade, o mantenedor mecânico Fabrício Euzébio Gabriel também é adepto dessa filosofia. Hoje com 46 anos, Fabrício pertence a uma geração que via nas tatuagens uma expressão de rebeldia: “Quando fiz minha primeira, 10 anos atrás, a maioria das pessoas curtiu, mas houve quem se assustasse um pouco, em razão da minha idade. Ainda existem certos tabus. Hoje tenho sete tatuagens pelo corpo e algumas artes na cabeça. Pretendo fazer mais duas até o resto do ano”, adianta.
Mantenedor mecânico Fabrício Euzébio Gabriel
A escolha sempre foi feita com critério: “Todas têm um significado; simbolizam algum momento de minha vida, alguma mudança pessoal, alguma vitória, questões espirituais, experiências e coisas que admiro, como a simbologia viking, a cultura egípcia, tailandesa e cristã, mas todas com significados únicos. Acredito que situações, conquistas ou mudanças são instantes únicos e gravar isso na pele é uma forma de nunca deixar esse momento se apagar”, expressa.
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Postado por Rafaela Melo, no dia 28/10/2023 - 12:54