foto: José Geraldo
Quando os navios negreiros aportaram nas “Terras Brasilis”, iniciaram um período triste na história de nossa nação, a escravidão. Mas traziam de “Mãe Africa” povos nobres: Reis, rainhas, príncipes, guerreiros e gente culta de suas nações, de um continente encantado. Reinos imensos em savanas ricas tinham lá suas raízes milenares, sua diversdidade de fé e cultura. Só conhecemos os reis brancos de olhos azuis da história oficial, europeia. Alguém acha mesmo que a poderosa Cleopatra do Egito era loira? As nações da Africa, em guerra entre si, aprisionando os inimigos os faziam cativos, e os vendiam indefesos ás Americas.
E aqui chegaram nossos irmãos de cor escura na pele, com seus séquitos, suas côrtes, seus principados e seus guerreiros. E foram forçados a fazer a riqueza de um Brasil, trabalhando nas plantações e nas minas (e sendo tratados como animais sem alma, como admitia mesmo a Santa Madre Igreja Católica do sacro império romano).
Se nas senzalas das Américas do Norte foram proibidos de tocarem seus tambores (e lá ajeitaram rudimentares instrumentos de cordas e de sopro, criando o Jazz e o Blues – sim!!! o rock vem da Africa) aqui, permitidos os tambores, mas sob a fé da crença católica, entre ignoranças e toleranças, (como diria Gilberto Freyre na sua Casa Grande e Senzala) os cortejos dos reis e rainhas foram sempre fieis a nossa Senhora, e sempre a conduziram as seus tronos com toda a honra, cores, pompas e sincretismo das misturas santas, de raças tão bonitas. Se na Africa, as deusidades se faziam representar nos elementos da Mãe Natureza, em seus locais e ritos tribais, aqui, as cenas urbanas da negritude nos legaram as igrejas de Senhora do Rosário, Santa Efigênia, Santa Luzia, Santo Expedito... Mas os bairros e ruas do ROSÁRIO, áreas urbanas doadas pela Igreja para moradia dos escravos libertos ainda são hoje, guetos de excluídos pela cor da pele.
Nos meses de setembro e outubro, dedicadas a Santa Efigênia, Senhora do Rosário e Senhora Aparecida, (nossas três rainhas negras) coloridas formações, de sonoros tambores sacros, fazem cortejo e escolta de honras, levando os reis e rainhas do povo, de mandato de um ano, para celebrar em suas igrejas a tradição tri-centenária que vem da Africa, mas que vem também da alma das montanhas de Minas.
Não importa se Nossa Senhora Aparecida também é chamada de Oxum pelos seus guerreiros da Africa. Importa que ela é Rainha do povo brasileiro católico e reconhecer isso é praticar a urgente tolerância entre as formas de fé e cultura que nos rodeiam. Num mundo perturbado pela intolerância, a ausência da razão e do respeito humano, costuma dar em guerra, em sangue derramado inocente, pela não aceitação da fé do irmão que mora ao lado. Gaza é logo alí...
José Geraldo é agente cultural em Santana e pesquisador das histórias e encantos do Alto Vale do Piranga.
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Postado por Nathália Coelho, no dia 12/10/2023 - 17:20