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Cultura


Série casos do Alto Paraopeba: a morte da meretriz que abalou Congonhas




 

Filha de uma pobre família mineira, Francisca Barbosa da Cunha nasceu em Santana do Paraopeba, hoje distrito de Belo Vale. No início do século XX, a menina mudou-se para Congonhas do Campo. Mais adiante, após viver, aparentemente, tranquila, a garota decidiu trilhar os caminhos da prostituição, transformando-se, como escreveu o jornal Correio da Semana, numa “dessas mercadoras do amor, que vendem seus carinhos para se sustentar”. Foi assim que, seguindo os caminhos desconhecidos da vida humana, Francisca tornou-se na célebre Chica Pó.

Na opinião dos moradores de Congonhas, apesar de todas as vicissitudes vividas, Chica Pó não era uma pervertida, mas “uma mártir do destino, uma grande infeliz”. A meretriz não era afamada exclusivamente em Congonhas, mas também em Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete, pois, em certa ocasião, após ser brutalmente espancada e navalhada, havia ficado internada na Santa Casa da cidade.

Marcada pela crueldade, mas sem alimentar mágoas e dissabores, Chica Pó prosseguiu seu percurso sem lutar contra seu cruel destino. Em seguida, passou a usar entorpecentes, tentando, assim, suavizar suas dores. “Parece que, até agora, tudo que havia ela conhecido de mal não a tornara odiosa”, dizia o povo de Congonhas. Sem muita demora, a jovem seria, mais uma vez, vítima da maldade humana, ou melhor, desumana.

Há algum tempo, o soldado José Brás, do 2º Batalhão da Polícia Estadual, vivia em Congonhas trabalhando na estação ferroviária. Na noite de 18 de março de 1925, depois da patrulha realizada quando da passagem do trem N2, o soldado dirigiu-se para a casa de Chica Pó. Ao encontrá-la na beira da Ponte da Praça Mário Rodrigues Pereira, por motivos desconhecidos, começou a bater nela ali mesmo, seguindo para a residência dela localizada no lugar conhecido como quartos do “Bom Será”.

Fechada a porta, José Brás continuou a espancando. Segundo o inquérito, o meliante usou um sabre. Já o povo dizia ter sido com um enorme cano de borracha. Quando Chica Pó estava quase morta, sua amiga Elisa Ferreira dos Santos invadiu o quarto e tentou impedir que aquela brutalidade continuasse, mas acabou sendo espancada também. Quando finalmente parou, ele percebeu que a meretriz estava morta, e sua amiga, descordada. Na mesma hora, o delinquente fugido rapidamente.

Em poucos minutos, o corpo de Chica Pó foi encontrado na madrugada de 19 de março pelos vizinhos. Desfalecida, Elisa Ferreira foi socorrida e enviada para o hospital de Queluz. “Em Congonhas do Campo não se fala em outra coisa. Todos comentam a crueldade do criminoso e lamentam o padecimento atroz que sofreu a infeliz meretriz”, comentou o Correio da Semana.

José Brás tentou fugir, mas acabou sendo preso em Queluz. No processo organizado pela polícia, seis testemunhas foram arroladas, dentre elas, a vítima Elisa. No fim, o soldado foi condenado a 29 anos e 9 meses de prisão, tendo sido julgado pelo juiz Antônio Carlos de Castro Madeira, sendo Isidoro Borges o promotor do caso. Na opinião de muitos, o desfecho deu-se somente por causa da pressão social e repercussão do caso.

Sobre o sentimento causado nos moradores, o Jornal de Queluz afirmou: “Em Congonhas ninguém lhe queria mal e todos sentiram e se horrorizaram com a agonia lenta e brutal em que lhe deram a morte”. Que a senhora Francisca Barbosa da Cunha, Chica Pó, esteja em paz!

Por Paulo Henrique de Lima Pereira

Diretor da Biblioteca Pública Municipal Djalma Andrade, membro da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette (ACLCL), do Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas (IHGC) e da Academia de Ciências, Letras e Artes de Congonhas (ACLAC)




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Postado por Nathália Coelho, no dia 18/06/2023 - 11:20


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