Muita gente não sabe da importância que Conselheiro Lafaiete teve na Inconfidência Mineira e como a cidade era considerada um ponto estratégico naquele período. E o problema é que se depender da divulgação de informações, muita gente vai continuar sem saber. É o que alerta o fotógrafo Célio dos Santos. Responsável por zelar pela história da Fazenda Carreiras, em Ouro Branco, Célio afirma que o potencial turístico de um importante patrimônio histórico da antiga Queluz vem sendo sistematicamente desperdiçado. “Às margens da MG-129, no caminho que liga Lafaiete a Ouro Preto, a gameleira da Varginha agoniza. Essa árvore centenária, que já sofreu com o fogo e depredações, hoje luta para sobreviver. E o pior é que ninguém faz nada para salvar essa árvore onde, no passado, foi dependurada uma perna do alferes Tiradentes”, lamenta.
O que está em risco, conforme destaca, é a preservação de um bem de reconhecido como valor histórico e cultural. Conforme detalha o Iepha, a centenária gameleira integra o sítio da Varginha do Lourenço, conjunto com tombamento estadual registrado em 1989 e que inclui, ainda, as ruínas da antiga Estalagem da Varginha e outras instalações. Localizada às margens da via conhecida no período colonial como Caminho Novo, a Estalagem, em 1788 foi palco de encontros de alguns dos inconfidentes que planejavam a independência do Brasil, o que justificou a exposição - embaixo de uma gameleira - de parte do corpo do único inconfidente condenado a morte – Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes. Em 1950, a Estalagem foi demolida, restando apenas ruínas. Em 1989, foi erguido o monumento em pedra sabão em homenagem ao Bicentenário da Inconfidência Mineira.
Mas quem passa pela hoje MG-129 não se dá conta do que vê. E isso, segundo o fotógrafo Célio dos Santos, deve-se à falta de atenção dos responsáveis por zelar por esse importante patrimônio. “Mais de 6 décadas depois da demolição da estalagem, parece que desejam ver o passado totalmente apagado, porque o local está abandonado de novo. Um funcionário da Ordem dos Cavaleiros da Inconfidência, que ficou lá durante sete meses, disse que a responsabilidade voltou ser da prefeitura; que a Ordem tem os documentos que comprovam essa decisão. Eu conversei com o Secretário de Desenvolvimento Econômico Rafael Lana que me falou que essa questão está na Justiça, e que enquanto essa decisão não sai, a responsabilidade segue sendo da Maçonaria”, afirma.
E enquanto não se resolve esse impasse, o tempo segue a sua marcha, encarregando-se de apagar as memórias do mais importante movimento pela liberdade que o estado já assistiu: “As formigas estão acabando com a árvore. Além disso, os escoramentos que fizeram para sustentá-la estão ruins. É um absurdo deixar acabar uma história de 230 anos”, frisa. Outro ponto lembrado por Célio dos Santos é a falta de uma estrutura para atendimento aos turistas. “Quem vai a Ouro Preto e Mariana em busca de história passa por aqui sem saber que temos o que contar. Isso porque não há um guia turístico no sítio. Já pedi para Lafaiete colocar uma placa na subida do Rancho Novo informando ‘Há 3 km, visite o local onde ficou a perna de direita de Tiradentes’. Mas como não informam, os turistas que passam por aqui, na Fazenda de Carreiras, chegam sem saber por onde passaram”, lamenta.
Preocupado com o abandono do espaço, o guia da Fazenda Carreiras faz um apelo: “Este ano, o Brasil completa 200 anos da Independência, mas essa independência não veio da noite para o dia: os Inconfidentes têm a sua participação na história. E, da parte de Lafaiete, essa história vai se apagar. Peço a quem tem esse poder, que verifique essa situação na Justiça. Quem sabe o Ministério Público não pode intervir? Quem sabe o dr. Glauco Peregrino não pode nos ajudar nessa luta? Quem sabe essas grandes empresas, como a Gerdau, não podem ajudar a montar uma estrutura adequada para a preservação dessas ruínas? São tantas as possibilidades, mas só vemos esses empurra-empurra diante dos nossos olhos”, pondera.
Em atenção ao ofício enviado pelo Jornal CORREIO, o promotor de Justiça Glauco Peregrino informou que, desde julho de 2015, o Ministério Público move a Ação Civil Pública n.º 5000668-57.2015.8.13.0183 em face da Gerdau, do Iepha e da Ordem dos Cavaleiros da Inconfidência Mineira (Ocim). O objetivo, segundo explica, é obter a condenação dos mesmos em fazer a revitalização integral do Sítio da Varginha do Lourenço e adotar as medidas de conservação da gameleira. O processo encontra-se em tramitação perante a 2ª Vara Cível da Comarca de Conselheiro Lafaiete.
“Desde o começo deste ano, as partes, além de o Município de Conselheiro Lafaiete, estão em tratativas para viabilizar um acordo que possibilite a execução do projeto de revitalização completa do local. As negociações estão em fase bastante adiantada, mas ainda estamos encontrando dificuldades com o Iepha, que apesar de ser a autarquia estadual responsável pela proteção do patrimônio cultural mineiro, tem agido de forma muito lenta e desinteressada em resolver a questão”, pontua.
De qualquer forma, um dos itens do acordo já foi alcançado. Ainda de acordo com o promotor Glauco Peregrino, a Gerdau, através da Universidade Federal de Viçosa, conseguiu realizar a reprodução assexuada da gameleira. “Foram obtidas dezoito mudas da árvore mãe, as quais serão plantadas, parte na área do sítio, após o trabalho de revitalização, e parte em locais selecionados pelo Município de Conselheiro Lafaiete”, revela.
Nota da redação
O Jornal CORREIO enviou ofícios para o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), Ordem dos Cavaleiros da Inconfidência e prefeitura de Conselheiro Lafaiete a fim de esclarecer o caso.
Célio dos Santos alerta para formigas na gameleira
Monumento erguido ao mártir também merece cuidados
Árvore centenária onde ficou exposta a perna de Tiradentes
Local não é bem sinalizado para turistas
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Postado por Nathália Coelho, no dia 17/08/2022 - 14:00