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Empresa contratada pela Vale deixou rombo de quase R$2 milhões em CL



 

Obras tiveram início em setembro, e agora outra empresa vem dando sequência aos trabalhos

O que parecia ser uma boa oportunidade de trabalho para muitas pessoas acabou se tornando uma “dor de cabeça”. Funcionários, prestadores de serviço e fornecedores da Klar Construtora procuraram o Jornal CORREIO para relatar que não receberam os valores devidos. Eles alegam que a empresa, que foi contratada pela Vale para execução da obra da nova escola Meridional, deixou um “rombo” financeiro em Lafaiete. Já a empresa Klar Construtora assume os débitos e afirma: “O processo de pagamento da mineradora sempre foi desumano para com os prestadores de serviço e se tornou inviável em um momento de pandemia e asfixia do mercado”.

O débito acumulado beira os R$ 2 milhões.  A pauta chegou ao Jornal CORREIO trazida por ex-funcionários da terceirizada: “Entrei sabendo que só poderíamos negociar a prazo. Então, contratei tudo: insumos para escritório, material de obra, serviços terceirizados, entre outros”, detalha um ex-funcionário do setor administrativo da Klar, que pediu sigilo da sua identidade. Também segundo o ex-funcionário, as coisas começaram a sair do controle quando houve atrasos nos pagamentos: “Quando houve um evento com o prefeito da cidade lá na obra [em setembro], já tinha pagamento de funcionário em atraso. Após o evento, um gerente da Vale chamou todos da Klar e garantiu que a gente ia receber - e nós recebemos na mesma semana. Mas no mês seguinte não houve pagamento e a perda de contrato era um risco real. A Klar estava recebendo notificações da Vale”, explica.  Ainda segundo o trabalhador, a construtora tinha cerca de 18 funcionários, entre CLT e PJ: “Quando perdeu o contrato, a Klar manteve dois funcionários: um do RH e um mestre de obras. Cabia a eles fazer a desmobilização dentro do canteiro, tentando devolver o máximo de produto aos fornecedores. Desde então, a Klar fala que depende de receber da Vale para pagar a gente. Não recebi o salário referente a setembro, nem a rescisão ou a ajuda de custo de fim de setembro e início de outubro. Também não depositaram meu FGTS”.  Ao administrador, conforme revela, sobrou o constrangimento de ser procurado por quem ainda espera receber o valor devido: “Tem uma lista de cerca de 25 ou 30 fornecedores que não receberam nada, e que entram em contato comigo, porque não conseguem contato com Klar. É uma situação horrível, porque é uma dívida moral. O que sabemos da Vale é que ela está trabalhando para resolver o problema”. 

 Auxiliar não recebeu nem um salário completo 

Desempregada, uma ex-auxiliar de serviços gerais conta que não chegou a receber nenhum salário completo: “Trabalhei o mês de agosto sem fichar. Fui registrada no dia 1º de setembro, com salário fixado em R$ 1.137, e demitida em 15 de outubro. Porém, não deram nem baixa da minha carteira ainda. Nesse período, recebi R$ 893; falaram que era parte do salário que já estava atrasado e que iriam terminar de pagar. Quando eu comecei, falaram que eu ia receber transporte e alimentação, mas nunca recebi. Foi tudo por minha conta”.  O tamanho do prejuízo O prejuízo teria sido ainda maior para um empresário que, por 2 meses, forneceu brita para a obra: “Não recebemos nem R$l. A Klar ficou devendo R$ 10.900,00 (sem as correções). Sempre que tentamos contato, eles alegam que a Vale está devendo a eles e que sem esse acerto [com a Vale], eles não têm como nos pagar”, explica. Atuando como pessoa jurídica, uma engenheira afirma que se mudou para Lafaiete pela oportunidade de trabalho: “Como moro em Belo Horizonte, tive que alugar um imóvel na cidade. Firmamos um contrato de seis meses, segundo o qual, todas as despesas pessoais, como aluguel, alimentação e transporte de BH/ CL, seriam por minha conta – e até aí tudo bem. Eu arcaria com esses custos com o meu salário. Acontece que eu mantive essas despesas por 3 meses, mas só recebei um mês de salário. Portanto, eles ficaram me devendo 2 meses de salário, mais a multa de rescisão de contrato”, detalha a engenheira, que já tentou contato, inclusive, com o escritório da Klar em São Paulo: “Conversei com o setor financeiro e, depois, com o próprio dono da empresa, o Mário Murtinho, por várias vezes. Todos eles me falaram que a empresa não tinha dinheiro para pagar os funcionários”. Para outra pessoa jurídica contratada, o prejuízo estimado gira em torno de R$ 50 mil: “Fui demitido no fim de agosto, ou seja, antes da perda do contrato. Mesmo assim, não recebi o salário do 3º mês de trabalho, nem além da rescisão. Além disso, há algumas pequenas despesas da obra, que acabei pagando do meu bolso e não tive o reembolso. A impressão que tenho é que a empresa não estava preparada para atender às exigências da Vale”.

Klar se defende   

Questionada pelo Jornal CORREIO, a Klar Construtora se posicionou. O diretor de projetos, Henrique Mazzei, explica que o contrato para a construção da Escola Meridional era de R$ 24 milhões, com previsão de término em agosto de 2022: “Quando fechamos sabíamos das exigências da Vale. Porém, ao longo do processo e da rotina de trabalho, foram necessários incrementos para atender um padrão de qualidade, além de qualquer norma de indústria e aquelas específicas da Vale”.

Confira a entrevista completa: 

Jornal CORREIO: Quando a Klar perdeu o contrato com a Vale? Por qual motivo?

Henrique Mazzei: A escola Meridional tem uma visibilidade muito grande e é tratada como modelo dentro da Vale. Foi implantado um novo formato de planejamento, feito com louvor pela Klar. Quando sinalizamos que era necessário repactuarmos os termos contratados para viabilizar a obra, em vista de uma série de exigências não previstas em um primeiro momento, a Vale preferiu encerrar a relação. Não pedimos mais dinheiro ou mesmo para aumentar a margem de lucro. Nosso pedido para Vale foi pra cobrir as despesas, pagar fornecedores e funcionários. 

Jornal CORREIO: O Jornal CORREIO foi procurado por trabalhadores, pessoas jurídicas e fornecedores que alegam que a Klar tem dívidas com eles. A Klar confirma essas dívidas?

Henrique Mazzei: Sim. E pedimos, por diversos meios, a ajuda a Vale para honrar os débitos. Todas as despesas foram geradas para fazer a obra rodar e cumprir exigências da Vale. Nosso pleito, quando a mineradora tomou a decisão de nos tirar da construção da Meridional, era justamente para honrar os débitos com todos os trabalhadores, fornecedores e terceiros envolvidos na obra. Enviamos planilhas abertas e transparentes.   

Jornal CORREIO: Segundo informações, a dívida chega a mais de R$ 900 mil. A Klar confirma essa informação? Qual seria o valor correto da dívida?

Henrique Mazzei: O valor é mais que o dobro disso e a Vale tem total transparência de todos os débitos.   Jornal CORREIO: A Klar tem buscado maneiras para solucionar esse problema? Como? Henrique Mazzei: Sim! Estamos buscando a única maneira possível: a Vale pagar a construtora pelo serviço prestado e contratado para honrarmos todos os combinados. 

Jornal CORREIO: Há trabalhadores que alegam que a Klar também não deu baixa em suas carteiras. Qual a justificativa da empresa sobre essa questão?

Henrique Mazzei: Essa questão se confunde com todas as outras. Precisamos de receita para encerrar o vínculo com todos os trabalhadores e fornecedores. Isso já foi falado diversas vezes de forma transparente com a Vale. Já demonstramos tudo de forma clara. O que a Vale quer é que tudo se adeque aos seus sistemas de pagamento, o que não se adéqua ao sistema é preciso ir pra justiça, o que fará com que famílias demorem meses e até anos para receber.  

Jornal CORREIO: Suas considerações

Henrique Mazzei: Em mais de 20 anos de estrada, a Klar nunca atrasou salários até a obra da Vale. Isso é um fato e pode ser apurado. Conversando com outras construtoras e empresas do mercado é conhecido que o processo de pagamento da mineradora sempre foi desumano para com prestadores, e se tornou inviável em um momento de pandemia e asfixia do mercado. O que já dissemos em reuniões de portas fechadas várias vezes: nunca fizemos e não queremos falir qualquer fornecedor ou empresa de menor porte. Entramos em uma obra da Vale acreditando no sucesso e em viabilizar outros negócios. Chegamos a ter mais de R$100 milhões em orçamento com a empresa. Nenhum dinheiro precisa passar na nossa mão; aceitamos publicamente fazer todo o pagamento diretamente a terceiros, funcionários e prestadores. É injusto que toda a pressão fique em cima de nós, enquanto a única coisa que queremos é honrar o compromisso e quitar todos os débitos. É importante que isso seja de conhecimento público. Estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos”, finaliza.  Vale nega descumprimento de obrigações Em resposta ao ofício enviado por nossa equipe, a Vale encaminhou seu posicionamento oficial:  "A Vale cumpriu todas as obrigações contratuais previstas com a empresa citada. A mineradora reafirma seu compromisso com a construção da Escola Meridional, em Conselheiro Lafaiete”.

 






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Postado por Mariana Carvalho, no dia 26/12/2021 - 11:43


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