Quase todos os dias a notícia se repete nos grandes centros: em um lado da cidade, alguém espera a fila por uma internação urgente, enquanto do outro, sobram vagas em outro hospital. E a culpa, quase sempre, fica no sistema, que nem sempre organiza de maneira eficiente os recursos médicos, na velocidade que o salvamento de uma vida exige – especialmente em tempos de pandemia de Covid-19. Mas a pesquisa de uma doutora em Engenharia de Produção pela UFMG pode mudar esse cenário. Nascida em Ouro Branco e de família lafaietense, Bárbara Regina Pinto e Oliveira, 32 anos, defendeu em 2019 uma tese que responde a essa necessidade: Alocação de leitos com distribuição simulada. Segundo a pesquisadora, sua pesquisa propõe uma abordagem de Otimização via Simulação para alocação de leitos de internação. “A abordagem foi aplicada em uma das macrorregiões de saúde de Minas Gerais, trazendo uma metodologia que se configura como uma alternativa aos métodos empíricos e suposições simplistas aplicados atualmente”, defende.
A pesquisa foi realizada entre 2014 e 2019 dentro do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da UFMG. Dada sua importância, foi aceita para publicação no International Journal of Medical Informatics, importante revista da área da saúde e concorre ao prêmio Capes de Tese 2020. “A pesquisa propôs uma formulação mais abrangente ao problema estudado, em que os parâmetros e variáveis foram descriminados por especialidade, município de residência/atendimento dos pacientes, e tipo de leito. Além disso, ao contrário de diversas pesquisas, a função custo diário dos leitos não foi representada por uma constante, mas sim, por uma função que depende do número e tipo de leito ofertado, de forma a considerar na otimização a lógica básica da economia de escala. Levou-se em conta, também, a relação entre as taxas de ocupação e recusa dos leitos, pois para pequenos pools de leitos operarem com taxas de recusa semelhantes às observadas nos grandes centros é preciso garantir menores níveis de ocupação, situa a doutora.
Abordando subsistemas mais homogêneos, foi possível reduzir os erros na estimativa da necessidade real de leitos, altas taxas de recusa dos leitos subestimados ou desperdício dos recursos públicos em leitos superestimados. “A abordagem foi aplicada em uma das macrorregiões de saúde de Minas Gerais. Conforme resultados, a contratação de mais 188 leitos do sistema privado e a realocação de leitos já existentes reduziria as taxas de recusa em cerca de 1/30 dos valores registrados atualmente”, detalha. Ainda segundo a pesquisadora, os resultados demonstram a capacidade da metodologia proposta em encontrar soluções eficientes ao sistema estudado, que buscam otimizar as taxas de recusa e o custo dos leitos e reduzir os problemas agravados pelo planejamento ineficiente deste sistema, como altos riscos de infecção dos pacientes alocados em condições precárias, longas filas de espera por leitos e desperdício de investimentos públicos em recursos mal estimados.
O trabalho mereceu elogios do Programa de Pós-Graduação de Engenharia de Produção da UFMG: “A tese propõe uma poderosa ferramenta para os gestores do sistema público de saúde. O método desenvolvido permite analisar a utilização e a distribuição espacial dos leitos de internação, por meio de modelos de simulação e otimização. Também desenvolve métricas estratégicas e operacionais, para apoiar o planejamento e redesenho da rede de saúde, visando a uma distribuição geográfica e econômico-social mais igualitária de necessidades de especialidade médicas e leitos saúde nos níveis de baixa, média e alta complexidade hospitalar, possibilitando, assim, uma melhor resposta às doenças originadas de evento catastróficos e epidêmicos, como a Covid-19”, escreve.
Também segundo a avaliação do PPGEP, a tese de Bárbara Regina Pinto e Oliveira traz um alto grau de inovação tecnológica e uma relevante e importantíssima contribuição social para o Brasil, o que justifica sua indicação ao prêmio Capes de tese de 2020. “Em um país como o Brasil, onde o planejamento da saúde pública tem um grande desafio pela diminuição do crescimento econômico, das grandes disparidades socioeconômicas e geográficas, agravado pelo rápido envelhecimento da população, são imprescindíveis estudos científicos para solucionar o problema do aumento de demanda por serviços e dos custos do sistema público de saúde, de forma a auxiliar os gestores públicos a melhor enfrentarem dificuldades em estabelecer prioridades na alocação de recursos”, reforça. O trabalho foi orientado pelo professor e pós-doutor lafaietense Luiz Ricardo Pinto e coorientado pelo professor doutor João Antônio de Vasconcelos, ambos da UFMG.
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Postado por Redação, no dia 26/06/2020 - 10:31