Semana passada, publiquei dados de uma pesquisa feita pelo Instituto Ayrton Senna acerca da evasão escolar. Os índices são alarmantes e ajudam a desenhar o quadro do atraso educacional do Brasil. A população sem ensino médio aumentou assustadoramente nos últimos 10 anos. E o preço social dessa realidade é mais alarmante ainda.
Essa geração que está abandonando a escola sem começar ou concluir o ensino médio é a que vai ter filhos em 2030. A consequência mais esperada é que seus filhos não sejam incentivados a estudar e que também herdem um baixo nível de escolaridade. Esse pessimismo tem bases históricas, uma vez que pais que têm curso superior tendem a conseguir que seus filhos cheguem à faculdade e, com frequência, façam mestrado ou, ainda, doutorado. Não é essa expectativa social que a pesquisa nos oferece.
?Mas o custo maior será para aqueles que não terminam a escola, como pontua também o documento. A remuneração ao longo da vida de uma pessoa com ensino médio pode ser, por exemplo, entre 17% e 48% maior que a daquela com o mesmo perfil, mas com escolaridade até o ensino fundamental. Outros índices de qualidade de vida, como saúde e planejamento familiar, também são desfavoráveis, segundo Paes de Barros.
A equipe do pesquisador elencou os principais fatores determinantes para o abandono da escola, divididos em três dimensões: externas à escola (como pobreza, violência, gravidez), internas à escola (qualidade no ensino, clima escolar) e relacionada aos próprios jovens (baixa resiliência). Ainda elencou ações educacionais já existentes nos colégios ? iniciativas das redes ou de organizações não governamentais ? e que atuam para cada tipo de desafio. "Cada jovem abandona por um motivo e é necessário um conjunto de ações para combater a evasão e acolher o jovem", afirma Paes de Barros, que é economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper.
Segundo o estudo, a sociedade deveria estar disposta a gastar o dobro do que atualmente investe por aluno do ensino médio ? hoje na casa de R$ 4.000 por ano por aluno. Considerando o total de alunos afetados, a pesquisa calcula que o país precisaria de mais R$ 98 bilhões. Hoje, investe-se no ensino médio cerca de R$ 65 bilhões ao ano.
Mirela Carvalho, gerente de Gestão de Conhecimento do Instituto Unibanco, lembra que intervenções focadas precisam ser articuladas com os entraves sistêmicos. "Carregamos uma série de desafios que chegam no ensino médio, como problemas de disponibilidade de escola, carência de professores, absenteísmo e infraestrutura." A obrigatoriedade de matrículas dessa faixa etária foi incluída na Constituição somente em 2009, quando se estipulou o prazo final para 2016. Esse limite foi reafirmado na lei do PNE (Plano Nacional de Educação), de 2014, mas não foi atingido.
Para o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a orientação recente da política educacional brasileira, com a centralidade do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), criado em 2007, esvaziou a pressão dos gestores para universalização da educação.
A recente reforma do ensino médio anunciada pelo governo Michel Temer não é citada no leque de ações possíveis. Entretanto, a flexibilidade curricular, ampliada com a mudança, é apontada como estratégia para melhorar o engajamento dos alunos. "Ela pode dar significado à escola, mas depende de como será implementada", afirma Paes de Barros?.
Eis o nó górdio do
ensino médio: a flexibilidade curricular e a capacidade de implementar as
medidas necessárias para a criação de um ensino médio com identidade capaz de
assegurar a formação científica e humanística das próximas gerações.
Infelizmente, tudo indica que o país não criou as bases sociais e políticas
para essa empreitada.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: [email protected]
Texto comentado. Créditos da FolhaUol.
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Escrito por Educação, no dia 10/11/2017