Na véspera do dia do professor, valem elogios, mas valem questionamentos sobre a formação aligeirada e superficial de muitos mestres. Grande parte não se incomoda e nem assusta com isso. Há, inclusive, os que se orgulham de ter comprado o trabalho de conclusão de curso. Tudo em nome de uma titulação e um lugar ao sol, ainda que com salários parcos. Na verdade, muitos até comemoram o que ganham, pois, no fundo, têm consciência de que investiram o mínimo na sua preparação para terem o salário que recebem. Fora aqueles que, concursados, se apostilaram em cargos de direção e que estão, agora, acomodados em salas de aulas, com seus métodos ultrapassados e entediantes. É esse profissional que vai ser comemorado no próximo dia 15. Evidentemente que essa realidade gritante não é a regra geral. Podemos dizer que esse perfil de professor não chega a ser maioria.
De qualquer forma, a análise abaixo, sobre a formação como ponto fraco de professores, principalmente, os de matemática, inquietam o coração daqueles que sonham com uma escola, cujos agentes tenham, senão mestrado, pelo menos uma pós-graduação bem feita, pautada em bases científicas e não no ativismo pedagógico exacerbado que temos visto entre muitos professores que detestam ler e criticam a necessidade de formação teórica. Mais grave do que aceitar se formar mal é aceitar uma faculdade de educação que não leva educação a sério.
?A formação de professores é o calcanhar de Aquiles da nossa educação básica. O professor é elemento crucial da cadeia educativa e, no entanto, a formação oferecida na maior parte das nossas licenciaturas em matemática é totalmente inadequada, além de obsoleta. No Brasil, a esmagadora maioria dos licenciados da área é egressa de faculdades particulares com controles de qualidade duvidosos. Muitas dessas instituições não têm jeito; precisam ser fechadas. Para outras, um efetivo controle por parte das autoridades poderia fazer uma grande diferença. Mas nossas melhores universidades públicas também não estão isentas de críticas.
Em artigo publicado em março de 2011 na revista "Notices", da American Mathematical Society (Sociedade Americana de Matemática), o professor emérito Hung-Hsi Wu, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, pergunta: "Para formarmos bons professores de francês, deveríamos exigir que eles aprendam latim, no lugar de francês? Afinal, latim é a língua mãe do francês e, sendo um idioma mais complicado, aqueles que conseguirem aprendê-lo deverão estar bem habilitados para o francês". Claro que é uma ironia mas, segundo Wu, tem muito a ver com o que fazem as licenciaturas em matemática em seu país. No Brasil não é diferente.
Humberto cita outra observação de Wu: na formação do professor de matemática, em contraste com outras disciplinas que apenas "olham para frente", para o que será visto na pós-graduação, é indispensável devotar tempo considerável a "olhar para trás", isto é, a analisar tópicos elementares de um ponto de vista avançado.
Ensinamos na escola que raiz cúbica de 2 é o número que elevado ao cubo dá 2. Mas nunca gastamos tempo para mostrar ao licenciando que tal número existe. Para dividir duas frações devemos multiplicar a primeira pela inversa da segunda. Por quê?
Essa indagação vale para todas as disciplinas. Ela mostra que a pedagogia da pergunta deveria estar presente em qualquer modelo de ensino, pois a aprendizagem começa pela pergunta e o conhecimento se consolida através dela. Muitos mestres não percebem isso. Com essas reflexões, parabenizo meus colegas pelo nosso dia, pedindo que aceitemos fazer uma autocrítica sobre a urgente necessidade da nossa formação continuada, pois estamos ficando para trás nos tempos.