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Educação


Ciência e aprendizagem infantil



Os professores de formação clássica - como a que eu e pelo menos duas novas gerações de professores tiveram - têm grande dificuldade de aceitar novas teorias sobre inteligência e processos de aprendizagem. Para nós, a aprendizagem se dá no circuito fechado dos padrões da inteligência lógico linguística e lógico matemática. A neurociência está desmontando essas concepções e, juntamente com isso, está desmontando nosso chão teórico. Isso assusta a maioria dos mestres.

?A importância da infância para o desenvolvimento humano, social e econômico parece estar ganhando espaço na cobertura da imprensa brasileira. Se confrontarmos as conclusões científicas sobre essa fase da vida - bem resumidas em vários textos jornalísticos recentes - com nossos investimentos em educação infantil, será inevitável a impressão de que nosso país está insistindo em um grave erro. O que dizem os especialistas de áreas como economia, psicologia e neurociência sobre crianças e desenvolvimento?

O psicólogo Andrew Meltzoff, cuja pesquisa de décadas sobre o tema se tornou referência, afirmou à revista "Época" no ano passado: "Há evidências científicas de que o desenvolvimento da criança no começo de sua vida ajuda a determinar o adulto que ela será (...). O meio em que a criança vive é de vital importância para seu desenvolvimento".

Em resenha publicada na Folha sobre livro recém-lançado pelo neurocientista Mariano Sigman ("A Vida Secreta da Mente"), o jornalista Ricardo Bonalume Neto destacou o seguinte trecho da obra: "o cérebro já está preparado para a linguagem muito antes de começarmos a falar".

Érika Fraga diz que, motivada pelo texto de Bonalume, leu o primeiro capítulo do livro de Sigman que trata da infância, o que achou interessante. Segundo ela, o autor fala sobre inúmeras pesquisas recentes sobre o tema, inclusive algumas de Meltzoff, para explicar como funciona e se desenvolve a atividade cerebral das crianças.

Ela diz, ainda, que ele cita descobertas - ainda pouco difundidas - como o fato de que "recém-nascidos com poucas horas de vida já têm os fundamentos da matemática em seu aparato mental". Sigman também diz ser um mito achar que cada adulto deve falar com uma criança sempre no mesmo idioma. Os bebês, afirma o neurocientista, não se confundem com trocas feitas pelo mesmo cuidador porque captam as indicações gestuais que usamos ao falar diferentes línguas.

Apesar de a atividade cerebral dos pequenos ser tão intensa e surpreendente, Sigman ressalta ser um erro achar que fatores, como a predisposição para a linguagem, podem se materializar sem interação social com adultos. "Um carinho, uma palavra, uma imagem, cada experiência da vida deixa uma marca no cérebro", escreve o autor. Os efeitos das experiências e dos estímulos recebidos pelas crianças sobre seu desenvolvimento têm atraído também a atenção de economistas que pesquisam o bem-estar. Um dos nomes mais respeitados desse campo de estudo é James Heckman, ganhador do Nobel de Economia em 2000.

Em entrevista publicada na mais recente edição da revista "Veja", Heckman afirma: "Países que não investem na primeira infância apresentam índices de criminalidade mais elevados, maiores taxas de gravidez na adolescência e de evasão no ensino médio e níveis menores de produtividade no mercado de trabalho, o que é fatal". Embora ele não tenha citado nenhum país especificamente, a descrição parece se encaixar como uma luva no Brasil. Isso assusta!

Texto comentado e adaptado. Disponível na Folha.

 

José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: [email protected]



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Escrito por Educação, no dia 09/10/2017




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