Por que se assustar ao ver que o aluno está imaturo para tomar decisões sérias, se o sistema não foi sério para ajudá-lo a amadurecer? O que um sistema paternalista de ensino quer colher, se aprova aluno que não sabe nada? O que falar de um modelo de ensino que dá direito aos pais e aos alunos de chegar o dedo no nariz dos professores e que torna os mestres reféns deles? Pois é nesse contexto que o novo ensino médio vai ser implantado. Faz ideia no que vai dar isso?
O novo ensino médio prevê que o aluno escolha entre linguagens, matemática, ciências exatas, ciências humanas, ou, ainda, um curso técnico para se dedicar durante quase metade do tempo que vai passar na escola. Mas, se escolher um curso universitário já é difícil, como será o processo para selecionar uma entre essas áreas logo após o nono ano do ensino fundamental?? Isso exige maturidade cognitiva e vivencial, não acha?
Para Silvio Freire, diretor do ensino médio do colégio Santa Maria, da zona sul de São Paulo, o aluno deve ter acesso a uma formação ampla, integral e diversificada para fazer a melhor escolha. Hoje, o estudante do ensino médio do Santa Maria pode escolher entre cursos optativos de história e direito, entre outros, com duração de seis meses cada um. Mesmo assim, afirma Freire, cerca de 40% dos alunos da instituição terminam o ensino médio indecisos sobre qual curso superior escolher. Agora imagine, leitor, se já existe uma imaturidade psicológica própria da idade, isso se agrava se o aluno chegou ao nono ano, brincando o tempo todo e trazendo a família para agredir professores que educam seus filhos. É essa geração que não gosta de ser cobrada e que não sabe conviver com a frustração de ouvir um ?não? dos adultos é que vai escolher o rumo de seus estudos no ensino médio. A ideia é fantástica, mas o destinatário está longe da maturidade exigida. A cara do ensino médio é a de uma maioria que vai passear na escola, para zoar de colegas.
Se a reforma já tivesse sido feita, Amanda Beatriz de Araújo, 16, aluna do Santa Maria, afirma que teria se sentido pressionada. "No final do nono ano eu ainda não tinha uma área em mente para escolher", diz ela, que até hoje, no segundo ano do ensino médio, ainda não bateu o martelo sobre qual carreira vai seguir. "Provavelmente, eu teria escolhido algo e iria querer mudar depois", afirma.? Está claro para você, leitor, que esse colégio é de classe média? Agora imagine os pobres, na desestrutura das escolas públicas.
Segundo Álvaro Vieira Neto, coordenador do ensino médio no Centro Educacional Pioneiro, também na zona sul de São Paulo, a mudança também vai atingir o ensino fundamental, que será uma das principais bases para a decisão do estudante.
?No Pioneiro, afirma Vieira Neto, o trabalho de orientação profissional, que hoje acontece no ensino médio em parceria com um instituto de neuropsicologia, vai ser antecipado para o nono ano. Rafaela Brissac, psicóloga e secretária da Associação Brasileira de Orientação Profissional (Abop), diz que antecipar a conversa sobre a escolha da profissão é uma boa estratégia, mas deve ser feita junto a uma ampliação dos conteúdos e das experiências oferecidos aos jovens?. Percebe como o projeto do novo ensino médio não cabe no manequim do aluno pobre? Lembra as antigas reformas elitistas da médica Montessori.
Eu tive alunos e alunas
do bairro JK, por exemplo, com quem trabalhei durante seis anos e a quem
visitei pelo menos duas vezes nesse período. Eles tinham uma parafernália de
sons em casa, mas jamais vi um livro sequer entre seus eletrônicos. Muito menos
vi os pais ou responsáveis deles. Onde estarão esses adultos, para orientar
seus dependentes, se eles não têm nenhuma participação efetiva na vida deles?
Fico à espera de milagres.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: [email protected]
*Dialogando com ideias de Everton
Lopes Batista, da Folha.
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Escrito por Educação, no dia 22/09/2017