Honestamente, eu não consigo entender. As secretarias de educação e as superintendências de ensino já facilitaram ao extremo as condições para os alunos obterem sucesso escolar. Muitas vezes, as medidas técnicas caíram no paternalismo, na mera ?empurrologia? pelos órgãos públicos e pelos diretores e docentes.
?Alunos brasileiros com bom desempenho no Pisa, teste internacional de aprendizagem, são minoria. Pouquíssimos estudantes de 15 anos demonstram proficiência nas disciplinas testadas (matemática, ciências e leitura). Isso vale até para a rede privada de ensino, embora a situação da rede pública seja ainda mais grave.
Entre os alunos das escolas públicas que prestaram o exame em 2015, cerca de 105 ? que representam ínfimos 0,7% do total ? atingiram pelo menos o nível 4 de conhecimento nas três áreas (em uma escala que vai de 0 a 6). Os dados são estimativas feitas pela Fundação Lemann com base nas estatísticas do Pisa, aplicado a cada três anos pela OCDE. O recorte é ainda mais chocante se for analisado o desempenho específico de adolescentes que já foram reprovados no início da vida escolar. Apenas um aluno que havia repetido uma vez nos primeiros anos do ensino fundamental estava entre as 105 exceções de escolas públicas que obtiveram um bom resultado em 2015.
Se, em vez de olharmos os poucos adolescentes que conseguem ir bem, focarmos na maioria que vai mal, a análise é ainda mais angustiante. Na rede pública, os alunos que não conseguiram atingir o nível 2 ? considerado o mínimo para exercer a cidadania ? nas três áreas de conhecimento do Pisa representavam metade do total. Entre eles, 38,3% tinham repetido pelo menos uma série nos anos iniciais do ensino fundamental. Esses números reforçam as conclusões de outros estudos que indicam que a repetência raramente recupera quem já está numa rota de dificuldade escolar.
"A ideia por trás da reprovação é que a escola precisa reter por mais um ano o aluno com dificuldades para que ele consiga alcançar um bom desempenho. Mas, sistematicamente, isso tem falhado", diz Ernesto Martins Faria, economista da Fundação Lemann, responsável pelo levantamento.
Muitas vezes, o que ocorre é o oposto desse objetivo. Ao ficar atrasado em relação aos colegas, o aluno se sente desestimulado. Isso tende a piorar ainda mais o desempenho escolar e não raro termina no pior dos mundos: a evasão.
A repetência no Brasil tem caído, mas em um ritmo lento para um país com níveis ainda altos de reprovação. No ensino médio, por exemplo, a taxa de repetência recuou de 12,2% em 2012 para 11,9% no ano passado. Além disso, os dados de reprovação oscilam enormemente entre os diferentes municípios e estados. Muitas escolas e redes que têm conseguido reduzí-la dizem investir no acompanhamento do aluno, procurando "recuperar" os que apresentam maior dificuldade constantemente e não apenas no final de ciclos específicos.
Mas vários programas nessa linha, chamados de correção de fluxo escolar, foram abandonados nos últimos anos sem que seus resultados tenham sido mensurados. Falta ao Brasil uma cultura de análise da eficácia de políticas públicas que apoie os gestores a tomar decisões certeiras em meio a tantos problemas que precisam ser atacados ao mesmo tempo.?
Como educador, concordo que repetência não é solução para resolver as deficiências cognitivas de alunos. Mas o que me incomoda é saber que é a maioria, e não a minoria, que chega ao final de um ciclo totalmente sem domínio dos conhecimentos básicos para a fase em questão.
Ninguém, dentro do bom senso, pode dizer que o fracasso é apenas do aluno, mas tampouco, dos professores. A maioria dos alunos está indo à escola para passear, para fugir dos pais e de obrigações domésticas. Uma maioria transformou a escola em clube. O que menos se vê é gente estudando. Gostam de aprender, mas fazem ?corpo mole? na escola. Os mais empenhados são pressionados pela maioria a abandonar seus propósitos iniciais.
Experimente parar debaixo da janela de alguma escola. Vai escutar um barulho ensurdecedor de vozes, gritos, gargalhadas, agressões verbais. É um pandemônio; algo assustador. Quando ouvimos a voz dos professores é para chamar a atenção, gritando mais alto que os alunos. Se você achar que tudo é culpa do professor, experimente entrar numa sala e chamar a atenção. Você vai assustar com o que acontece. Simplesmente sua pessoa será ignorada. É isso! O fracasso é da repetência, mas, antes de tudo, da repetência da falta de respeito que se vê todos os dias na rotina escolar. Os professores são mais reféns do que atores nesse cenário. No entanto, cinicamente, a sociedade exige que eles sejam super-homens ou supermulheres.
Disponível na Folha de São Paulo.
Título adaptado.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 04/08/2017