A rua sempre foi espaço público de formação de cidadania. Porém, nos últimos anos, nossas crianças se tornaram prisioneiras dentro de suas casas ou apartamentos, devido às ameaças à segurança social que temos vivido. A psicóloga Rosely Sayão toma a defesa das crianças, argumentando sobre o direito delas em usar as ruas.
[...] ?Sempre que falamos em crianças andando pelas ruas, logo pensamos na segurança, ou melhor, na falta dela. E, em geral, a justificativa do perigo que são as ruas para as crianças nos leva a deixá-las presas entre móveis e imóveis. Até criamos expressões por conta disso: "rua não é lugar de criança" e "crianças de rua" são dois exemplos desse nosso pensamento.
No trajeto de casa para a escola de carro, eles não têm a oportunidade de conhecer a cidade com mais intimidade com seus habitantes, tão diversos! Ficam imersos em um mundo irreal, uniforme, que nunca irão encontrar quando crescerem e tiverem autonomia para ir e vir.
Os mais novos irão crescer e viver sozinhos um dia, e será neste mundo com que tentamos evitar que eles tenham contato que eles viverão. Por isso, talvez seja bom que aprendam logo a conhecer de perto a cidade em que residem. Ir e voltar a pé de casa para a escola é a primeira e grande oportunidade que eles têm para tanto.
Já temos um movimento que incentiva e colabora na prática para que os mais novos tenham maior proximidade com o local em que moram. Ele se chama "Carona a pé" e tem o objetivo de fazer com que grupos de crianças que moram próximas caminhem juntos até a escola, com o acompanhamento de um ou mais adultos responsáveis por elas, que se revezam nessa função.
Que tal, caro leitor, tentar construir para o próximo semestre uma rede de pais que moram no mesmo bairro e que têm filhos frequentando a mesma escola e criar o "carona a pé" para a criançada - e até mesmo o "carona de ônibus" para os adolescentes? São tantas as coisas que eles podem aprender com essa mudança em suas vidas, que vale a pena se dar a esse trabalho! Ganham os mais novos e ganha a cidade.
Quanto menos crianças estiverem nas ruas, mais a cidade será hostil para elas. Quanto menos pessoas nas ruas, mais os carros se apossam delas. Precisamos devolver nossas crianças à cidade e a cidade às crianças, porque isso contribui, além de tudo, para uma vida mais civilizada. O primeiro passo talvez possa ser este: ir para a escola e voltar dela a pé.
Os pais responsáveis pelo trajeto com a criançada podem ser "guias" que apresentam às crianças detalhes da cidade que elas ainda não observaram e dialogam com elas a esse respeito. Aliás, eles podem fazer isso também de carro, quando o trajeto a pé for impossível.
Elas podem ver como há gente diferente delas na cidade, por exemplo, na cor da pele, no modo de se vestir e de se comportar no espaço público, no tipo de caminhar etc., e isso ajuda a criar empatia com o outro. Podem, também, conhecer moradores e comerciantes no trajeto e estabelecer uma relação amigável com eles e os reconhecerem como pessoas e cidadãos. São muitas as possibilidades!
Se você criar coragem
para promover essa mudança, caro leitor, pode entrar em contato com o movimento
pelo site que eles podem colaborar com sua intenção. Vamos fazer isso por
nossas crianças??
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: [email protected]
Disponível na Folha de São Paulo.
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Escrito por Educação, no dia 20/07/2017