A atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC) idealiza o acompanhamento personalizado e o incentivo à mentalidade científica. Isso, exatamente aqui, neste momento, onde autoridades reduzem mais ainda a verba das pesquisas e forçam a superlotação das salas de aula, para economizar às custas de sobrecarga de trabalho dos professores.
A BNCC está vindo como pressão que exige adequação das escolas a outras formas de promover a aprendizagem pautada na postura científica. Dentro da lógica do ensino por atacado da forma como a escola funciona? Duvido que vai funcionar. Antes de tudo, essa decisão exige a formação de professores e de formadores. Estamos diante de um baita desafio. Claudia Costin analisa essa questão, no que se segue.
?Com anos de atraso, finalmente o Brasil, nos moldes dos melhores sistemas de educação, criou a Base Nacional Comum Curricular, centrada em competências a serem desenvolvidas pelos alunos da educação infantil ao final do ensino médio. Já no ensino fundamental, aparece, na disciplina de ciências, uma ênfase em experimentação, condição necessária para que, de fato, os alunos aprendam a pensar cientificamente, e não apenas a decorar meia dúzia de fórmulas.
Na recente Marcha pela Ciência, motivada pelo reduzido interesse pelas ciências do atual governo americano (e pela precária fundamentação de decisões de políticas públicas em evidências científicas), pode-se verificar o importante elo entre o ensino de ciências nas escolas e o exercício de cidadania global. O risco de ter o negacionismo das mudanças climáticas e a resistência a vacinas crescendo no mundo de pós-verdades merece atuação forte de cidadãos dentro e fora das escolas.
Lembrei-me, ao ler a base, de um esforço de implementação do currículo de ciências desenvolvido por cientistas no Chile. Com foco num processo de educação centrado em experimentação, iniciaram um programa de ciências em escolas em áreas vulneráveis do país, com forte investimento em formação de professores, material estruturado e kits para experimentos. No Rio, quando fui secretária municipal de Educação, procuramos fazer o mesmo nas escolas localizadas em áreas conflagradas, num programa denominado Cientistas do Amanhã.
No programa chileno, depois estendido a grande número de escolas, algo de interessante aconteceu: ao trabalhar com experimentação, para além de um maior conhecimento dos alunos e da incorporação do eixo "competências de pensamento científico" no currículo nacional, ocorreu, de forma não totalmente intencional, o desenvolvimento nos alunos de competências socioemocionais associadas à prática em sala de aula.
Com uso intensivo de trabalho em equipe, o que demandava constante revisão e discussão de ideias para identificar e validar hipóteses de pesquisa, competências como colaboração, respeito e comunicação assertiva foram enfatizadas. Da mesma maneira, ao registrar seu processo de pesquisa e fazer apresentações a seus colegas a partir de suas descobertas científicas, não apenas se desenvolviam competências associadas à comunicação formal como, colocando o aluno no centro da cena, fortaleciam-se sua autoconfiança, motivação e engajamento. Há anos, cientistas brasileiros, como Mayana Zatz, lutam por um processo semelhante. Não seria o momento de trazê-los para a mesa de discussões??
Honestamente, não consigo entender o que emperra a mudança de perfil da educação formal escolar, no Brasil. Existem tantas pessoas bem intencionadas e preparadas para promover e implementar mudanças. No entanto, ainda estamos progredindo pouco nas mudanças. Por quê?
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 02/06/2017