Uma coisa é certa: quanto maior o leque de opções, maior a insegurança da escolha. E, se de um lado os adolescentes estão vivendo um momento privilegiado de oportunidades e de facilidade de acesso a várias informações e serviços, por outro, ficam desorientados, pois se deparam com a falta de clareza e de capacidade de discernimento sobre o que devem escolher. O vazio e o tédio são sentimentos muito comuns diante das muitas ofertas e das poucas habilidades e critérios para selecioná-las, submetê-las a um crivo crítico e escolhe-las. Essa realidade tem gerado conflitos e dramas na vida dos adolescentes.
Rosely Saião relata, na Folha de São Paulo, parte dessa situação: ?Faz algum tempo que tenho conversado com jovens para tentar entender por que é tão grande o número dos que se sentem desencantados com a vida, sem ânimo e, acima de tudo, entediados e vazios. Um dos motivos que percebi nas conversas foi o fato de a escola e os estudos parecerem ser o único objetivo, na visão dos pais e de outros adultos, da vida dos adolescentes. E mais: a meta é uma boa classificação em exames e vestibulares.
A vida, para esses jovens, tornou-se monotemática. O tempo todo os pais recomendam que estudem, cada um de seus professores fala diariamente dos exames que farão etc. Outro fator que promove a maior pressão neles é a escolha do curso universitário. Eles ouviram que é muito cedo para escolher algo que farão para o resto de suas vidas e se convenceram disso. Não é cedo e nem precisarão repetir as mesmas coisas sempre: toda profissão tem grande potencial de diversificação no mundo atual. Mas, nessa busca e com essas premissas, essa escolha torna-se quase impossível para eles: como encontrar uma profissão que os deixe apaixonados ? agora é moda dizer que é preciso ter paixão pelo trabalho, que o mercado valorize e que ofereça excelentes salários?
Os diálogos com os adultos também são pouco estimulantes para eles, que não se sentem levados a sério por seus interlocutores principais, pais e professores. Quase todos disseram ouvir "sermão" deles quase todos os dias, e estão tão cansados do mesmo blá-blá-blá de sempre, que nem ouvem mais. Os argumentos que eles têm quando discutem a vida em sociedade, a política, a ética, a religião etc. são, em geral, considerados bobagens pelos pais.
Acontece que o adolescente precisa de diálogos com adultos para que consiga se entender melhor ? mesmo quando diz bobagens ? e para construir seus próprios valores. Vamos lembrar que a adolescência é o período em que os mais novos se preparam para se tornar seus próprios pais. Sem diálogos e exemplos por parte dos adultos, isso é missão impossível.
Claro que os jovens buscam alternativas para sair desse tédio, e eles encontram, principalmente em alguns caminhos bem arriscados. Muitos se entregam às redes sociais e aos jogos: usam a cada dez minutos e ficam tão absorvidos que se esquecem do tédio que, claro, retorna assim que eles escapam de suas malhas. Outros, escolhem ir à baladas e ingerir drogas ? lícitas e/ou ilícitas ? para encontrar euforia, se desinibir, essas coisas. E sexo, é claro.
E há também os que decidem desafiar a morte. Creio que quase todo mundo já ouviu falar do "jogo da asfixia", ou do sufocamento. Pode ser ? e já foi ? fatal. E agora há uma nova modalidade de aventura radical praticada em outros países, que não sei se já chegou ao Brasil. Mas chegará, já que a internet conecta esses adolescentes em busca de adrenalina, como eles dizem. Nessa prática, chamada "extreme building climber", os adolescentes escalam as mais altas construções da cidade para caminhar e se pendurar nos locais mais perigosos delas. Pode ser ? e já foi ? fatal.
Será que não podemos desafiá-los para que se desenvolvam, amadureçam e, acima de tudo, amem a vida? Podemos, sim! Basta começar a ouvi-los, colaborar para que se entendam e que coloquem em ato seu potencial criativo para beneficiar o coletivo, e não apenas a si mesmos.?
O desafio de levar os adolescentes a usar seu potencial para ?beneficiar o coletivo? me parece muito grande, uma vez que o modelo social prega o prazer e a felicidade, o sucesso e bem estar individual. Os educadores até conseguem milagres, construindo valores coletivos com seus alunos, mas ?a contrapelo da história?, expressão do historiador, Eduardo De Decca. Assim, vamos!
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 13/04/2017