O polêmico assunto, muito bem abordado na última coluna pelo nosso colega pescador, doutor Marco Aurélio Rossini, requer, na minha opinião, um estudo mais profundo, justamente por existirem diversas hipóteses que não devem deixar de serem consideradas, justamente pela divergência de opiniões. Pesco há quase 60 anos, desde os tempos da velha e boa vara de bambu e das linhadas de mão. Molinetes já existiam, mas não faziam parte da tralha dos grupos que conheci, muito provavelmente devido ao baixo poder aquisitivo da época.
Pescávamos quase toda semana em Pedra do Sino, no rio Carandaí, naquela época simplesmente chamado de ?Palmeiras?. Paraíso dos lambaris, todo mundo pegava, chegando o pescador bom de anzol a fisgar algo em torno de 500 lambaris num único dia. Não é história de pescador, cheguei a presenciar algumas vezes com meu saudoso pai e qualquer um da velha guarda pode confirmar o fato. Bem, passaram-se os tempos, hoje quem se aventura a pescar lá se dá por satisfeito se conseguir fisgar umas duas dúzias.
Diversos fatores levaram à situação, mas aqui, por ter vivenciado o problema ao longo do tempo, posso dizer com certeza que a causa maior foi a agricultura no local. Com a chegada dos japoneses, grandes lavouras foram plantadas nos morros, principalmente de tomate. Com as chuvas, a terra revirada foi parar no leito do rio, juntamente com os agrotóxicos utilizados, e que não eram poucos. O resultado: os peixes foram sumindo até quase a extinção total. Naquela época não havia cota nem tamanho. Todo peixe capturado era morto, mesmo por que, também pelas dificuldades, muitas vezes era o peixe a ?carne? do almoço.
Os tempos mudaram, e a situação atual realmente necessita de alguma providência urgente. A respeito de soltar peixe tenho uma história interessante: aconteceu comigo numa pescaria no rio Paracatu, próximo a foz do rio Preto, na região de Brasilândia. Naquela ocasião consegui fisgar um cachara, peixe que não é nativo da bacia do São Francisco. A bem da verdade, não dava medida. Chamei meus companheiros para testemunhar o fato, tirei fotos, e quando disse que iria soltar o peixe foi grande a surpresa dos companheiros, que queriam de todo jeito que o peixe fosse servido como tira-gosto. Prevaleceu minha vontade, o cachara foi solto.
Na minha opinião, não é o pescador amador o principal vilão. Eu nunca vi ribeirinho soltar qualquer tipo de peixe, seja ele de que espécie e tamanho for. Por este motivo, acho que o problema deveria ser atacado na sua origem, ou seja, na pesca dita profissional. Em quase todos locais onde ainda existem peixes a pesca profissional foi proibida.
O profissional mora na beira do rio, sua rede permanece ?pescando?, 24 horas por dia. Durante a piracema recebe do governo para não pescar, mas é justamente nesta época que ele pega mais peixe, devido a concentração dos cardumes. Daí minha dúvida: seria justo privar o pescador amador de trazer o peixe quando conseguir pegar? Muitos, dentre eles me incluo, além de gostarem de pescar, gostam também de apreciar um bom peixe fresco, com a família e com os amigos.
Conheço vários pescadores que, por motivos financeiros e profissionais, só fazem uma boa pescaria por ano. Seria justo dizer a ele para soltar os peixes que conseguir pegar, justamente ele que está sempre sendo assediado pelo profissional tentando vender peixes capturados por rede, espinhéis, mergulho etc. Já participei de grandes pescarias com a turma dos ?Ô Quêêê? nos rios Guaporé, Teles Pires, Araguaia e Paraguai, dentre outros. E, é bom se diga, lá também mata-se peixe, servido como tira-gosto todo dia, só não pode trazer.
Minha opinião é que os pescadores têm que se unirem, e através de uma associação pressionarem os órgãos públicos. Infelizmente, tem que envolver políticos, mas eles vivem de votos, e para se ter uma ideia, as associações de pescadores de Lafaiete e Congonhas, juntas, contam com mais de 600 votos, número considerável, sem contar com os pescadores não-associados, que poderiam ser recrutados em algum tipo de ação, tipo abaixo-assinado. O assunto é polêmico, mas à medida que começa a ser debatido, certamente uma solução de consenso poderá ser encontrada.
Boas notícias para nossa região: segundo fiquei sabendo que já está sendo feito um caminho alternativo para os peixes na Hidrelétrica de Jeceaba (escada). Se confirmado, será realmente uma grande conquista para nossa região, é um sonho dizer que poderemos num futuro próximo fazer boas pescarias próximo a Queluzito. Talvez já pensando nisto, o pescador Joãozinho (São Dimas) diz que já tem acertado com a Cemig um peixamento na região. Assim que confirmar a data vamos divulgar e pedir a presença do maior número possível de pescadores, visando a fortalecer o importante evento.
Ronaldo de Oliveira
Empresário e pescador inveterado
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Escrito por Pesca, no dia 13/04/2017