A aprendizagem por áreas, assegurada por um currículo mais flexível, gera conflitos entre pais e filhos. É uma das discussões quentes, no momento. Segundo a Folha de São Paulo, "A ideia é vista como ótima ou boa por 58% dos estudantes, enquanto 40% dos pais pensam da mesma forma. Entre os pais, 43% entendem que a flexibilidade é péssima ou ruim, segundo pesquisa da Datafolha, realizada com esses dois grupos na cidade de São Paulo, no mês passado".
Boa parte dos estudantes reconhece a importância de construir um currículo que lhes garanta escolhas a partir de áreas de interesse, mas estão conflitando com seus pais. Tento me colocar no lugar dos adultos que 'querem o melhor para seus filhos', mas estão equivocados ao pensarem que a flexibilização da aprendizagem traz malefícios. Exatamente por alegarem que querem o melhor para os filhos ou dependentes, deveriam ser os primeiros defensores de uma escola que lhes assegure independência e autonomia na escolha de conteúdos de que gostem. Essa é a única forma de errarem menos em suas escolhas profissionais.
Mas a tendência é conservadora. Defendem, erroneamente, o conceito de escola que tiveram, para defender os direitos da prole. Esquecem que somos de gerações que se beneficiaram de uma escola que hoje não garante aos alunos o que nos garantiu. Os pais sabem que o mundo mudou, mas, contraditoriamente, continuam defendendo uma escola de outro mundo para as crianças e os adolescentes. É um absurdo!
Diz a Folha que [...] "A pesquisa que ouviu 805 estudantes e 408 pais de 25 a 30 de novembro, reflete a opinião de estudantes do 8º e 9º anos do ensino fundamental e do ensino médio, além de pais com filhos nessas séries, na capital paulista. Entre os consultados, 80% são da rede pública e o restante, de escolas particulares (proporção que reflete a realidade das matrículas em SP)."
Esse dado reforça a tendência conservadora e sem esclarecimentos por parte do pais. Era de se esperar que esses 80% de entrevistados, jogados em escolas públicas, que oferecem pouca base cognitiva para as massas, tivessem uma atitude mais reivindicadora e esclarecida. O que indica que as famílias confiam cegamente no modelo clássico de ensino. Assusta muito constatar que são pais de um estado cosmopolita, de grande envergadura política e cultural.
Mas exatamente por também se tratar de um centro cosmopolita de cultura multifacetada é que, dentre muitos avanços, deparamos com mentalidades conservadoras. A realidade da educação chega a ser irritante, pois deveria ser transgressora, ousada e revolucionária, pois arroga ser formadora de gente criativa para o mundo. Ledo engano. A educação exerce papel social simplesmente ridículo por aqui: deforma pessoas para a vida social e para o mercado.
Outros dados trazidos pela Folha ajudam a pensar sobre os desafios para a criação de um novo ensino médio no Brasil: "Como é hoje: carga horária mínima é de 800 horas anuais (ensino parcial). O que o plano propõe: grade será ampliada gradualmente para 1.400 horas anuais (ensino integral). Vantagens: há evidências de que a carga expandida melhora o desempenho dos alunos. Entraves: modalidade integral requer um bom projeto pedagógico e gastos maiores". Será mesmo que há evidências de melhor desempenho com ensino integral? Nem particulares têm conseguido isso. E como bancar ensino integral, que requer gastos maiores em um país de PEC? É um pecar contra a educação. É um deboche!
Dados disponíveis em: http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/12/1841592-opcao-de-escolha-por-area-no-ensino-medio-agrada-estudantes-e-divide-pais.shtml .
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 06/01/2017