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Educação


A vida não vale nada?



A catástrofe em Mariana e Brumadinho nos leva a várias perguntas. Uma, de natureza filosófica, seria: A vida não vale nada para as empresas? Ou vale? Os fatos mostram que não. É triste o comentário, creio ser verídico, de que o engenheiro chefe da Vale pediu a profissionais para adulterarem o relatório sobre a segurança da barragem. Senão, perderia o mandato na empresa. Outra atitude vergonhosa foi de a empresa saber, há meses, da ameaça de ruptura e não agir preventivamente. Quando a vida vale, Vale? Qual é a resposta para Brumadinho, depois de o mesmo ter acontecido em Mariana?
Outra pergunta para a qual eu, como leigo em relação à engenharia e gestão de recursos, não consigo resposta plausível é: Por que construíram um restaurante ao pé da barragem, na parte inferior? Após o desastre, a natureza mostrou que aquela decisão foi grosseira. A onda de lama não varreu as laterais altas. Sem nenhum conhecimento técnico de engenharia, eu conseguiria ter intuição de que ali não era lugar para se construir nenhum prédio. Será que a motivação foi a mesma, de economizar em obras, como optaram pela barragem à montante, sabendo da existência de comunidades próximas? Fico a pensar o baixo valor que temos atribuído à vida.
É assustador como a lógica do capital perde seu papel e função social, quando os interesses do mercado se sobrepõem aos interesses sociais. Eu sempre debati essa questão na universidade, com meus alunos de engenharia da mineração. Porém, sentia que muitos achavam que a Filosofia não passa de um delírio intelectual. Eu via que muitos alunos não percebiam o alcance e complexidade da questão, pelas justificativas simplistas, simplórias e simplificadas deles. Via de regra, alegavam que as usinas tinham controle de qualidade das atividades, a começar pelo manejo artificial de solo e a recomposição da vegetação. Não entendiam que nada substitui o que é natural. Uma perna quebrada jamais voltará a ser uma perna natural.
Por vezes, era desolador ouvir os estudantes justificarem a agressão à natureza como forma legítima e necessária para geração de empregos. Assim como para muita gente, determinado político “rouba, mas faz”, para muitos deles, valia o princípio: “destroem, mas geram empregos”. As lógicas da produção entorpecem a mente de dirigentes e dirigidos, que justificam, cegamente, muitos métodos de exploração econômica que incidem em erros recorrentes. Essa ilusão de que ‘estamos gerando e ganhando o melhor com isso’ leva à ilusão de status social que entorpece e anestesia as mentes de quem realmente se favorece da situação e a dos iludidos. Esse aspecto fica claro com o incêndio, recente, na sede do flamengo.
As instalações luxuosas estavam disponíveis para o acesso dos jogadores que já dão lucro ao clube. Porém, no alojamento, (aquele puxadinho), estavam depositados os possíveis “bens de produção”; aqueles que ainda não davam lucro ao clube. Será que as famílias daqueles meninos e rapazes sabiam disso? Tinham consciência daquela diferença de tra­tamento? Pior ainda é: se soubessem e estivessem escondendo dos amigos que seus filhos ou parente estavam “num depósito” do clube. Muitos devem ter falado que os filhos estavam na sede do Flamengo. Na sede ou na estrebaria? Na sede ou no puxadinho clandestino? Possivelmente, na mente daqueles jovens, estava a aceitação passiva de que, para subir, é preciso começar de baixo, em depósito de gente, como nos campos de concentração nazistas.
De todas essas questões, a que me inquieta profundamente é saber que, ambos, exploradores e explorados, fazem um pacto de mediocridade e desvalorização da vida e arriscam a única que têm, como se ela não valesse nada. A mente alienada e entorpecida vive como se nada de ruim fosse atingi-la, ou como se fosse fênix. Daí a atitude de naturalidade diante do que não é natural.

José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ e membro das ACLCL.
Contato – [email protected]



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Escrito por Educação, no dia 08/03/2019




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